A ÉTICA DAS VIRTUDES E A FORMAÇÃO DO CARÁTER HUMANO

Este livro tem como objetivo examinar o surgimento, a formação e as principais características das escolas éticas gregas – Cínica, Platônica e Aristotélica – que surgiram após a morte de Sócrates (399 a.C.). Essas mesmas escolas objetivavam estabelecer as bases filosóficas daquilo que Sócrates denominou “sabedoria das coisas humanas”. Uma “sabedoria prática” que estipulasse as condições pelas quais os seres humanos viessem a atingir o que os gregos designavam como uma “vida florescente” ou “vida feliz”. A grande novidade do pensamento grego, diante das demais civilizações que se desenvolveram nesse mesmo período da História, foi a de criar uma visão “secularizada” da “felicidade” humana, que seria alcançada sem recorrer a nenhuma espécie de auxílio de natureza “transcendente”, visão que o filósofo Luc Ferry chamou de “doutrina da salvação sem Deus”. No primeiro capítulo deste livro será apresentada, sucintamente, a Tradição Sapiencial grega até o surgimento da figura de Sócrates. A Tragédia Grega marca o ponto de transição entre essa mesma Tradição Sapiencial e o surgimento da figura de Sócrates, dando início a uma reflexão filosófica que tem na “ação” humana o seu objeto. No segundo capítulo do livro será examinada a figura de Sócrates como o criador de uma nova espécie de “sabedoria prática”: a “sabedoria do caráter” ou “sabedoria ética” (êthikon). A seguir, será apresentada a doutrina socrática na perspectiva de dois dos seus maiores discípulos: Platão e Xenofonte. A “sabedoria socrática”, para Platão, distingue-se de todas as demais espécies de “sabedoria” desenvolvida pelos gregos até então, porque está dirigida para o aperfeiçoamento do “caráter”. Somente desse modo é possível atingir a “excelência” na ação. Isso é conseguido pelo “controle racional” sobre as “emoções” humanas. Segundo Platão, o Filósofo é o paradigma da sabedoria Ética. Xenofonte foi contemporâneo de Platão e também discípulo direto de Sócrates. Xenofonte escreveu a Memorabilia, texto que apresenta uma visão “alternativa” à descrição platônica do Sócrates histórico. Para Xenofonte, Sócrates é a encarnação da “sabedoria ética”, não por ser um Filósofo e refletir sobre a natureza da “virtude do caráter”, mas por sua “conduta prática”. É nela que poderia ser vista a “nobreza” de seu caráter. Sócrates encarnava o exemplo “vivo” de um ser humano “justo”, “temperante” e “corajoso”. No terceiro capítulo do livro será apresentada a doutrina ética Cínica. Embora tenha sido colocado no rol dos “Socráticos menores” pelos historiadores da filosofia, o Cinismo foi a mais radical e fiel expressão da mensagem “ética” de Sócrates. Do grego κινών (cão), o Cinismo foi a primeira Escola socrática. Criada por Antístenes, logo após a morte de Sócrates (399 a.C.), o Cinismo recebeu esse nome ao estabelecer seu ideal de vida “virtuosa” de acordo com a “simplicidade” e o “descaramento” da vida canina. Antístenes seguia rigorosamente o preceito ético fundamental de Sócrates, pelo qual a “virtude” do caráter seria a única via para a “felicidade”. No quarto capítulo do livro será apresentada a contribuição decisiva de Aristóteles para a constituição da Ética das Virtudes como uma ciência “prático-normativa”. Aristóteles é considerado o fundador da Ética (Êthikon) como o ramo da Filosofia que examina a ação (do grego – práxis) humana. Embora fazendo parte da Política, a Ética é uma ciência autônoma e tem no caráter humano o seu objeto de estudo. Segundo Aristóteles, a Ética é uma ciência “normativa”, pois não reflete sobre a “conduta efetiva” dos seres humanos (tal como o faz a Psicologia), mas sobre como “deveria ser” a conduta desses mesmos seres humanos para desenvolverem plenamente as suas “possibilidades emocionais”, que é a condição necessária para uma “vida feliz”.