Uma obra do acaso

Mia Rangel não era a pessoa predileta do universo, e isso nunca foi uma novidade para a jovem arquiteta. Desde muito cedo, ela soube que entre todas as pessoas vivas no planeta, o Universo tinha um problema em especial com a sua existência. Afinal, o que mais ela poderia culpar por toda a desastrosa falta de sorte que rondava sua vida?

Com o passar dos anos, Mia aprendeu a nunca se surpreender com as coisas que aconteciam e a lidar com tudo o que surgia no seu caminho com paciência e otimismo, a fim de não correr o risco de irritar seu maior oponente nessa luta. E costumava ser fácil, ao menos até a chegada de Pedro.

Sendo um dos herdeiros da ZAE, Pedro não era a pessoa mais fácil de se conviver e isso era de conhecimento público. O engenheiro não era dos mais habilidosos na arte da comunicação, tampouco fazia questão de mudar esse traço de sua personalidade. Afinal, ele se acostumou com a ideia de ser respeitado aonde quer que fosse, tanto por seu sobrenome quanto por sua carreira incomparável — sem precisar recorrer à simpatia.

Bastou uma troca de olhares para que soubessem que não se suportavam, e que a convivência no canteiro de obras seria intolerável. Quanto mais distantes desejavam ficar um do outro, mais o destino enlaçava seus caminhos para fazer com que se aproximassem, até que a afinidade se tornasse uma fatalidade, provando aos dois que por mais que tentassem correr, não se podia fugir dos planos do destino.