Um amor inventado

Governa Salazar com mão de ferro este país pobrezinho mas remendadinho quando dois jovens, seduzidos pelas proezas do grande ciclista Alves Barbosa, saem pela primeira vez da aldeia natal, à aventura, para fazerem, também eles, a Volta a Portugal em bicicleta.
Mas Portugal é bem maior do que lhes parecia no mapa da agenda de bolso por onde se orientam, em toda a parte o povo é hospitaleiro e não os deixa prosseguir sem antes os embebedar, o cansaço chega, a rotina instala-se, o entusiasmo esmorece nas longas e desérticas planícies alentejanas… É então que conhecem um fotógrafo à la minuta, valdevinos e mulherengo, que os inteira da extensão do rectângulo pátrio. Decididos a abreviar o périplo, querem, mesmo assim, terminar com proeza que lhes assegure glória: a Serra da Estrela e a subida até à Torre. Na descida, em Manteigas, um deles inventa o amor, apaixonando-se por humilde sopeira, e essa paixão vai crescer como o Zêzere, tão humilde na nascente, verdadeiro mar em Castelo de Bode, onde a barragem o retém, impedindo-o de se lançar impetuoso no oceano, sonho de todos os rios…
Narrativa motivada pelo poema de Daniel Filipe “A Invenção do Amor”, transporta-nos para um passado recente, duro, frugal, que importa não esquecer e as ameaças actuais avizinham…