Romamç

epois de publicar a marca extraordinária de 400 volumes – vide amazon.com -, Henriques volta a exibir nova tarefa aos olhos dos leitores. Trata-se desse extraordinário compêndio devidamente chamado Romamç. Da mesma maneira que alguns livros anteriores do autor mantinham a intersecção dos desenhos, a arte visual digital ao extremo, esse texto também se permite a tamanha liberdade. Entre página e página, a inserção dos visuais, fato que engrandece por demais a estrutura do romance. A se dizer de tal forma abreviada, que deve mesmo ser um romance o livro que ora se tem diante dos olhos. Mesmo o título sugere que deve ser assim. Com o desenvolver de uma obra tão abrangente, o autor se permite a certos devaneios nada econômicos. Estamos diante de uma obra máxima da Literatura Universal. Um dia livros mais epigramáticos que podem ser examinados dentro de uma obra vasta e densa como essa de Henriques. Entretanto, aqui os detalhes se tornam abundantes em demasia para que sejam relegados. Não estamos a falar de um romance comum porque nada revela que o seja, mesmo partindo do princípio de início, meio (trama) e fim. O romance todo desafia esse tipo de construção e à moda de anarquia equilibrada, desenvolve nova estética.
Trata-se de um retrato vívido e muito colorido do cotidiano das criaturas ditas normais dentro do universo popular e urbano do mundo. Muitas personagens desafiam o enredo desse filme. Tudo acontece como se fosse um veraz filme, frame-by-frame. O romance deixa de ser convencional desde o momento em que a estrutura não obedece a regras e tampouco a limites. Todas as personagens desfilam de uma maneira que poderia ser chamada de aleatória e um fato acontecido não se revela apropriado diante do outro. Ou a interrelação entre presente, futuro e outras marcas temporais é quebrada de uma maneira que poderia ser chamada de loquaz. O leitor deve permanecer sempre atento para essa novidade que trata a representação do texto como verdadeiro desafio. Por ser uma criação nova – e sempre renovada -, o autor não carrega a expressão de agradar a qualquer tipo de público. Isso fica assentido e é notório, pois que, se não dá aos seus personagens a oportunidade de resolver fatos e artefatos, trata-os de modo libertino, a tal ponto descosturado o texto, que na verdade não importa a história em si – quase transparente e inexistente -, mas somente a expressiva qualidade de uma Literatura que alcança a grandeza de ser por si mesma, independente de qualquer artimanha que possa agradar a um determinado tipo de público. Diante desses argumentos todos, um livro que tem a aparência de ser simplório, carrega a dinâmica da transformação e da erudição.
Romamç – título quase desengonçado para qualquer livro – é texto de maestria texturizada. Tendo atravessado todas as possibilidades estéticas ao longo de suas 400 obras publicadas, Henriques esteve lento durante o ano de 2022, quase não tendo publicado número maior de livros. Parecia ter cessado a pragmática intenção de levar além, a mais, essa obra gigantesca. Entretanto, o autor agora volta à cena com esse encantado esboço literário. Obra apurada e que desafia de forma simples e objetiva a hierarquia proposta pelo estilo e todas as variações pertinentes ao que se escala como acadêmico. Esta mistura de gêneros que ocorre aqui em Romamç é algo de extraordinário. Surge no entrecho a crônica, o ensaio, a poesia, o teatral, o conto, a novela e finalmente o romance em seu teor mais impoluto. Um livro que precisa ser guardado como marca de revolução.
Humberto Henriques desafia o próprio experimento. Quando traz mais um livro com sugestão experimental, está ultrapassando os limites da coisa que poderia ser dita anterior. Diante disso, o progresso que admite como marca constante de evolução está sempre constante em sua obra. Trata-se de um romancista cujo objetico é cercar-se do próprio teor dos deslimites.