(PT) ENSAIO DA SÉRIE: TEMAS DE PSICOLOGIA ANALÍTICA «PENSAR SIMBOLICAMENTE» Parte 1: O SEGREDO PARA COMPREENDER O MUNDO INVISÍVEL

Os símbolos destinam-se a dar um sentido à vida por mais infeliz que esta possa ser. Esta é também a função dos símbolos religiosos. O símbolo é uma imagem com sentido e se estiver associado à emoção é chamado arquétipo. Numa situação de pânico, por exemplo, as imagens arquetípicas têm uma importância vital e fazem a pessoa agir de forma adequada diante duma situação de perigo, funcionando como compensação. O inconsciente coletivo é formado principalmente pelos grandes acontecimentos coletivos que aconteceram ao longo dos tempos. Quando certos conteúdos do inconsciente coletivo ficam ativados e atingem a superfície num conjunto de pessoas, formam uma corrente histórica. Uma imagem arquetípica que for a adequada para um determinado momento, ganha vida, e toda a gente é dominada por ela. A psicologia coletiva é um oceano e a psicologia individual mais parece uma pequena onda nessa imensidão. É a psicologia do inconsciente coletivo e as imagens arquetípicas que decidem o destino do homem, e não aquilo que discutimos ou pensamos dentro das nossas cabeças, quando estamos em nossas casas, sentados à lareira. As pessoas julgam-se sensatas mas de repente aparece uma onda gigante que lhes leva a razão na enxurrada e nada se pode fazer, nem sequer dizer se o que está a acontecer está certo ou errado. Esses movimentos das massas são acontecimentos totalmente irracionais, são a história em movimento. As imagens impessoais que aparecem nos sonhos muitas vezes são de origem religiosa, e são autênticas bombas. Se dermos um arquétipo ao povo, a multidão irá mover-se por inteiro como se fosse um só corpo e nada poderá deter o seu movimento. «O inconsciente coletivo é uma função dinâmica e o homem deve manter-se sempre em contato com ele. A sua saúde espiritual e psíquica depende da cooperação das imagens impessoais. Essa é a razão principal por que o homem sempre teve as suas religiões. O que são as religiões? São sistemas psicoterapêuticos. E o que fazemos nós, psicoterapeutas? Tentamos curar o sofrimento da mente humana, do espírito humano, da psique, tal como as religiões se ocupam dos mesmos problemas. Assim, Deus é um agente de cura, é um médico que cura os doentes e trata os problemas do espírito; faz exatamente o que chamamos psicoterapia. Não estou fazendo jogo de palavras ao chamar a religião de sistema psicoterapêutico. É um sistema elaborado, por detrás do qual se esconde uma grande verdade prática.» (Jung, 1981: § 369)