O romance da história: A história do mundo através da filosofia

Você começa aqui uma viagem no tempo pelos sete mares nas asas da imaginação literária. São 22 paradas em terras e culturas tão distantes do mundo atual e, ao mesmo tempo, tão próximas do que já carregamos na alma.

Convoquei 21 guias fantásticos para esta expedição, mais ambiciosa do que a de Dante Alighieri que, de certa forma, também esteve no encalço de personagens históricos, guiado por apenas um cicerone, o poeta Virgílio.
Quatro são autores de clássicos da literatura universal: Victor Hugo, Thomas Mann, João Guimarães Rosa e Antônio Callado. Todos os demais são grandes nomes da literatura contemporânea.

Com o escritor indiano Amitav Gosh navegamos no mar de papoula inglesa, vício e soberba entre a China e a Índia do século 19. Já o chinês Daí Sijie nos conta sua paixão adolescente por Alexandre Dumas, Balzac e uma bela costureirinha nos tempos sombrios da Revolução Cultural. Mia Couto viaja no mesmo navio, de Moçambique a Lisboa, que conduzia o último imperador da África livre, com reserva para nós no convés. O paquistanês Tariq Ali traz as memórias do grande Saladino nas Cruzadas e de seu legado na Andaluzia medieval. O arqueólogo francês Christian Jacq, cansado da solidão da profissão, viaja pelas águas do Nilo com Ramsés II, revelando um mundo atravessado por intrigas, ambição, guerra, pragas e costumes milenares.

O jornalista norte-americano Gary Jennings publica as confissões desconcertantes de um comerciante asteca aos conquistadores espanhóis da maior metrópole do mundo, Tenochtitlán, hoje Cidade do México.
O libanês Elias Khoury, professor da Universidade de Nova York, recupera as memórias do guerrilheiro Yunes, em coma, na eterna luta do povo palestino pelo reconhecimento de sua pátria, muito próxima de Israel. A francesa Elif Shafak, professora na Universidade do Arizona, pega um voo de São Francisco a Istambul e desembarca no massacre armênio após a Grande Guerra. A brasileira Ana Maria Gonçalves nos embarca em Benin rumo a Salvador, na companhia de Keinde, menina escravizada aos oito anos de idade, pela qual você vai conhecer as dores e a luta afrodescendente na Bahia e no Rio de Janeiro imperial.

Nosso mestre Saramago, morto em 2010, simplesmente encanta ao saltitar no tempo na mesma Lisboa, entre a atual e a medieval, à cerca do cerco da então cidade islâmica do século 12. A guerra do Vietnã finalmente é descrita do ponto de vista vietnamita, no relato de Duong Thu Huong sobre o amor secreto entre o líder máximo Ho Chi Min, aos sessenta anos, e uma jovem de apenas vinte anos.
Com o dinamarquês Christian Jungersen presenciamos a eliminação criteriosa de judeus poloneses pelos nazistas e dos civis alemães pelos soviéticos justamente para entender como funciona a mente genocida em tempos de guerra, muito próxima do bullying em tempos de paz.

Pelas mãos e letras de Karen Essex, da Louisiana, você vai adentrar o mesmo recinto em que Leonardo da Vinci prepara sua Dama com Arminho, para profundo constrangimento da mulher do poderoso Ludovico Sforza de Milão, pois a dama eternizada pelo pincel do mestre renascentista, a soldo de Ludovico, era sua amante, não sua esposa, em mais um matrimônio costurado no jogo de poder entre as ricas repúblicas italianas do século 15.

Os clássicos, bem, estes aí nos reservaram missões especiais, impactantes, envolventes, das quais não se pode sair igual como se entra. Não tem jeito: prepare-se, encontre um lugar isolado e embarque. Não estranhe se todo mundo estranhar você na volta. Você estará mais velho, talvez mais sábio. Já aconteceu na caverna de Platão. São efeitos indeléveis da viagem no tempo.

Boa viagem.

João Ricaldes
Maio de 2021