Não sou uma só: Diário de uma bipolar

O texto de Marina W. é leve, fluente, cativante. Porém, mais do que seus dotes de escritora, o que me atraiu e me fez dar este testemunho é o tema do seu livro, o assunto que aborda de forma generosa e solidária. Marina fala de uma dor estigmatizada, de uma doença que as famílias escondiam qual lepra particular, de um sofrimento que não podia dizer seu nome. Só hoje, no alvorecer do século XXI, o preconceito, o obscurantismo e a ignorância começam a perder terreno para a luz e a tolerância. Graças a livros como este, que aborda de maneira honesta e acessível a questão do padecer psíquico. Tenho esperança – ouso dizer mesmo que acredito – que Marina W. vai ajudar muita gente a se libertar de suas prisões solitárias, de sua agonia inconfessa. Tem remédio.

Pedro Bial, jornalista

Marina W. contribui significativamente para essa evolução com uma rica e dinâmica perspectiva tanto pessoal como objetiva da bipolaridade. Os pequenos e grandes dramas e exaltações são contados com o calor e sabor característicos de quem tem as emoções à flor da pele, o peito aberto e a mente afiada. Seu temperamento e estilo revelam a humanidade em toda a sua amplitude e potência: de reflexões profundas a intuições imediatas, da indiferença à curiosidade, de viagens internas a externas, de mergulhos no passado a sonhos do futuro, de retrações a paixões e excessos. Marina se dispôs a isso e ainda bem que pôde contar com um psiquiatra do quilate do Dr. Olavo Pinto, um dos maiores especialistas do mundo no assunto. E melhor ainda é todos podermos ter acesso a um pouco dessa interação entre Marina e Olavo a partir desse livro.

Iniciativas com essa qualidade certamente ajudam a entender todas as fases, fantasias e nuances que fazem parte da vida de quem tem o humor instável e o temperamento forte e inflamável. Ter esse transtorno não pode e não deve ser motivo de vergonha. E tampouco de orgulho. O que importa mesmo é a identidade que buscamos desenvolver e como concebemos os outros e o mundo ao nosso redor. Marina certamente está fazendo a sua parte.

Diogo Lara MD, PhD – Professor de Psiquiatria (PUC-RS)