MISTÉRIO DE SAFIRA

Mistério de Safira é um romance amazônico, já que cheio de personagens e ambientes que permeiam a nossa região. O homem não consegue fugir do ambiente que o cerca, por isso o escritor muitas vezes escreve sobre o que vê, vive ou sente no lugar em que habita. Os regionalistas brasileiros, como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Érico Veríssimo, escreveram magnificamente sobre suas terras. Na região Norte, lembro das figuras da terra onde nasci, Inglês de Souza e Dalcídio Jurandir, avançando sobre o território paraense em suas histórias, aquele ainda no século XIX.
A Amazônia é das florestas, das sucuris, dos caboclos, dos barcos e canoas singrando os rios, dos curiós e uirapurus, das lendas da mãe d`água, do tarumã, da água de pote, do jiral, que marcam para sempre a vida de quem aqui nasceu. A história se passa no Estado do Amapá, atravessando lugares como a Vila do Jacabal, o Retiro Jaguari, o Lontra e outros lugares. O personagem principal do romance é Pedro Paulo, que trabalha para o coronel Maciel Parente, dono da fazenda de Campo Formoso. Os personagens deste livro, portanto, vivem em localidades do interior do Estado, trabalhando com gado, e isto é algo que chama bastante atenção no romance: os personagens estão sempre em labuta, levando gado daqui para lá, e fiscalizando as terras do coronel, percorrendo os rios que enchem a vida e os olhos do homem amazônico.
Mas nem só de rios, trabalho e fazendas de gado vivem os personagens deste livro, pois há também as crendices que permeiam a Amazônia. Tal qual a iara, Safira é uma mulher que encanta/enfeitiça/hipnotiza os homens, levando-os para a sua casa na floresta, onde perdem a noção da realidade, vivendo como em um sonho. Pedro Paulo cai nessa armadilha por certo tempo, passando a viver com Safira uma “história de amor”, deixando a sua esposa Maria Rita grávida, a ponto de não ver o nascimento do filho.
Outro personagem digno de menção é Topázios, que aqui faz as vezes de feiticeiro, mago, “encantado do bem”, em contraposição a Safira, uma “encantada do mal”, que pretende destruir o “Vale do Araguari”. Topázios aparece dando uma missão a Pedro Paulo: livrar o Vale do Araguari da misteriosa figura da mulher. O desfecho do livro não poderia se dar, senão também de forma sobrenatural: através de um amuleto, um cajado e o espírito de um africano contra o anel de Safira.
Com esta obra, Ricardo Pontes, escritor sempre voltado ao movimento literário amapaense, salta dos poemas e contos –estes publicados em antologias- para a difícil “arte do romance”, trilhando caminho já antevisto em seus contos: o caminho de olhar para a sua terra – onde vive e onde sonha- e contar as suas histórias. Nada mais faz do que cumprir o seu destino -o curió canta, o tambaqui nada- de pescador de letras.