MAREMOTO

“Deitei para descansar de meu mar interno, mas ele simplesmente não largava de mim. Não deixava eu renovar minhas energias antes do próximo mergulho e me derrubava com sua força num caldo violento. Não conseguia me manter de pé. Levantava e era derrubado pela correnteza. A areia sob meus pés não conseguia me sustentar mais, era levada junto comigo, cada vez mais para o fundo do oceano. Desaprendi a nadar. Me vi sucumbindo em tons de verde e azul cada vez mais escuros. A correnteza me levando cada vez mais para as suas profundezas. Afundando até me ver em uma escuridão quase que completa. Meu mar, meu próprio mar, me afogando em suas águas turbulentas. Fui submergindo cada vez mais ao fundo de mim até engasgar com minhas próprias águas. Cada vez mais fundo. Sem ninguém para me tirar dali. Só eu e o breu da imensidão marinha”.Maremoto conta a história de um rapaz gay que se muda para uma metrópole tentando fugir do sufocamento que sua pequena cidade natal sempre lhe causou. Porém, uma doença respiratória ainda pouco conhecida toma o país inteiro, fazendo com que ele acabe tendo que ficar um tempo aparentemente interminável trancado em sua kitnet de 27m², acabando por sentir-se mais sufocado na cidade grande do que jamais imaginou ser antes. Uma história extremamente pessoal que mostra todos os altos e baixos pelos quais o próprio autor passou sozinho em seu apartamento durante a pandemia de Covid-19.