Hella

As favelas de Niterói, no Rio de Janeiro, lugar de gente simples e pobre, são, muitas vezes, espaços usados para esconderijo de foras-da-lei ou mesmo tráfico de drogas, dadas as dificuldades de a polícia se fazer presente e a facilidade de os marginais circularem por becos e escadas a perder-se no emaranhado de barracos morro acima ou ladeira abaixo onde as viaturas não chegam. Com isso, as pessoas que nelas residem acabam ficando reféns de um poder paralelo. E ainda que pareça absurdo, nesse ambiente convivem pacificamente trabalhadores e bandidos; os primeiros alheios à sua vontade, cúmplices dos segundos. É neste ambiente que Hella, uma jovem de dezenove anos dependente de remédios para dormir, mora. Os protagonistas Hella e Guaracy, por meio de um casamento realizado de forma nada ortodoxa, vão às últimas consequências de um relacionamento fadado a dar errado pelas circunstâncias que se verá em pormenores no desenrolar da trama. Guaracy, após o casamento, recebe das mãos de uma virgem uma relíquia: uma cruz com três ponteiras incrustadas, cada uma representando uma vida. Segundo a virgem, quando a última ponteira se desprendesse, seria a sua morte inevitável. Ao receber a relíquia, a sorte é lançada. Vivendo num meio em que o sincretismo religioso, marcado pelas religiões de origem afro se faz presente, ao frequentar o centro de umbanda comandado por Pai Morgado, Hella tem seu casamento com Guaracy anunciado por Iansã.A trama toma forma à época da pacificação das favelas no Rio de Janeiro, quando foram criadas as UPPs e a polícia passou a marcar presença efetiva nos morros. Guaracy, o noivo de Hella, aceita casar-se com ela, embora saiba que a noiva está grávida, segundo ela, de Oxalá. O enlace ocorre com pompa e circunstância. Mesmo em lua-de-mel, Hella passa por maus bocados na companhia de Guaracy, que mostra seu caráter de homem perverso e ardiloso, não só com ela, mas até mesmo com estranhos que viessem a contrariá-lo. Hella é um romance que não termina com o clássico “e foram felizes para sempre”, mas seu desenrolar prende o leitor, e cada capítulo lido é um convite para a leitura do próximo.