EPISTOLA DE MANOEL MENDES FOGAÇA: DIRIGIDA DE LISBOA A HUM AMIGO DA SUA TERRA, EM QUE LHE REFERE COMO DE REPENTE SE FEZ POETA, E LHE CONTA AS PROEZAS DE HUM RAFEIRO. Portuguese and English Edition

Por José Agostinho de Macedo
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EPISTOLA.

Por certo, Amigo, que benzer te deves
De me observares subito Poeta!
Em proza de lá vim, e escrevo em verso!
De perfeita saude hum corpo goza,
E he do contagio subito assaltado.
Se entre doentes de malignas vive.
Nunca grassou na Imperial Lisboa
Maior contagião de infindos Vates:
He tinha que se apega, e se propaga,
Como se estende no Levante a peste.
Entro em hum Botequim, são Vates todos;
Eu bebo tãobem ponche, e fico Vate.
Se vou para a Comedia, ouço Elogios,
E quando volto pela rua grito:
=Honra, Patria, Virtude, ó Tejo, ó Douro.
Brilhai na escuridão; que azeite falta.=
Vem n’hum Jornal o invento do Antimonio,
E a maneira subtil de, cães, e burros
Mortos, tornar em branco Espermacete;
Lá vem versos tãobem, taes e quejandos:
“O homem he fungo, e germen de monturo.”
Eu li co’os olhos meus esta sentença;
Deos pague ao seu auctor, quem quer que seja,
O completo elogio á raça humana!
Onde todos são Vates sou Poeta:
Tudo novo aqui he, tudo he prodigio:
Eu jà cançado de lidar co’os homens,
De observar sem proveito os seus costumes,
Por hum capricho, que esquecêra a Jacques,
Ando observando a Cafila infinita
De matilhas de cães, que pejão tudo,
A quem Lagarde fez sangrenta guerra:
Pragmatica Sancção de Canicidio
Aqui duplicou, fogirão todos
Do terrivel Caligula pelado,
Depois que as Aguias rapinantes forão
Ás mãos dos fortes Luzos derrabadas,
E a Falange infernal de trapo e fome
Fatiota entrouxou, que não trouxera.
Das ermas grutas dos alpestres montes
Veio surdindo affouta a canzoada,
Que fugira ligeira ao calvo Néro,
Quasi toda esgalgada, e sem cabello,
Consumida da putrida rabuje,
Mas bem depressa em lamaçáes nojentos
E ás nunca, e nunca solitarias portas
D’altas casas de pasto, e consciencia,
A pansa se lhe encheu cresceu-lhe o pelo,
E airada vida se levou nas ruas.
Uivão, retoição, saltão, ladrão, mordem,
E vão correndo atraz, dos que chotêão,
E co’ sentido talvez no arenque esguio,
Que em picado lá vai mettido em massa
Dos que hum sò molho tem, guizados muitos;
Progenie illustre d’onde vem meu sangue,
Donde eu sahira involuntaria empada,
De boa creação, gordura, e polpa;
Farto como hum villão, rapaz travesso,
A quem nunca falhou pedrada, e sôcco.
Não me pejo da raça, e se escolhera,
Antes de feito no materno alvergue,
Fôra meu Pai hum rico toucinheiro
De tez purpurea, e dorso acanastrado,
Material, mas honrado, e de palavra,
A quem não regeitasse hum Senhorio
Seguro Abonador d’agoas furtadas,
E que á primeira voz de Patria, e Throno,
Pagasse de contado o Quinto, ou Terço,
Que a hum ladrão Francez não desse hum palmo
De lingoiça, ou de chouriço moiro;
E que prompto com a ripa, ou co’ a espingarda
No terreiro ao Domingo apparecesse.
Perdoa, amigo, a digressão de hum Vate,
Que julga que a virtude he só nobreza,
Como o bom Juvenal disse aos Romanos.
De meus versos assumpto, aos Cães eu torno;
Quasi todos conheço pela pinta,
Filosofo Canino, eu ter quizera
O bom Cão de Diogenes profundo.
Mas entre a ímmensa Canicada toda
…..

Características do eBook

Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:

  • Autor(a): José Agostinho de Macedo
  • ASIN: B091D7MFJL
  • Editora: 文藝復興文庫
  • Idioma: Português
  • Tamanho: 603 KB
  • Nº de Páginas: 78
  • Categoria: Literatura e Ficção

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