Bar do Birota

Esse romance é sui generis. Revela a aliteração simples da palavra e sua torneadora que faz limite da novela com o teatro. Dessa maneira e a dizer de outra forma, o Bar do Birota está pronto para ser relevado como peça de teatro. A dramaturgia pronta para ser demonstrada. Basta que seja encontrado um roteirista, um produtor e a peça está pronta. Entretanto, é uma novela como qualquer outra desse romancista que não encontra fim para sua produção. Disso se depreende que o romancista está a navegar mais adiante, um passo mais além do que antes seria apenas a face da prosa como identidade apenas romanesca. Porém, Henriques parece gostar de inovar nesses termos.
Emblemático. É somente isso que se poderia dizer sobre esta história. O pano de fundo é usado com o nome de Anapolária. Porém, como já foi visto em outras resenhas e comentários sobre esse livro, como um que foi publicado no Correio Brasiliense, essa cidade não passa de Anápolis vestida de uma maneira meio desqualificada. Entretanto, o Bar do Birota existe lá desde épocas imemoriais. Pelo menos existia até os primeiros dez anos desse século. Hoje, nesse momento, pode ser que o Bar do Birota não exista. Porém, aqui ele permanece como termo imortal de toda a Literatura Universal.
Somente a título de curiosidade, de onde terá saído esse apelido do Birota. Birote e birota são a mesma coisa. Então, de acordo com o dicionário, fica a expressão e a verbete que pode ter originado um dos mais originais romances jamais escritos em toda a vanguarda da Literatura universal. De tal sorte que é muito representativo o verbete e sua sonoridade. De se imaginar a fachada do velho bar onde está devidamente inscrito o nome desse belíssimo romance. O Bar do Birota. As memórias se assentam.
O que é birote: sm Penteado feminino que reúne os cabelos no cocuruto da cabeça; pitote.
O Bar do Birota, romance grandioso por excelência, trata o assunto da Literatura de uma maneira distinta do que se viu até então, mesmo na própria obra do autor. O texto é irônico em demasia. Mas dentro dessa ironia existe uma amargura pesponteada, a ponto de ser imaginada como tragicomédia se acaso o teatro fosse analisado aqui à superfície do contexto. O Birota é personagem introspectivo. Sua vida é comum demais dentro de um esquema incomum de apresentação. O romance começa de maneira inusitada e termina da mesma forma. A personagem tem um caráter tão individualista e real que chega a impressionar pelo impacto que causa ao leitor. É uma personagem apreensiva.
Birota, a personagem central desse romance, é um botequineiro de uma cidade chamada Anapolária. Cidade comum e que pode ser encontrada em qualquer lugar desse país. O texto trata da vida fictícia desse homem, o trivial em seu bar, desde que amanhece até que fecha as portas. O bar se abre e o leitor entra por ele e não sai mais até que seja concluída a leitura do texto. Acaba preso ali pela trama abrangente e enorme.
Nesse mundo de solidão pacata – era um solteiro por convicção e métodos – surge a possibilidade de um amor. É aí que a vida do homem se movimenta e redunda. Começam então as tergiversações em torno desse caso. Sempre o alvo tendendo a se concentrar na figura da fêmea. Bar do Birota é um romance distinto, já se disse. Sai da linha comum da descrição simplória. Parece ter sido construído para ser uma peça teatral. É altamente introspectivo. Para ele ser transposto e adaptado, bastam os panos e correntes da ribalta. A facilidade que as personagens impõem ao diálogo é sempre surpreendente. Livro criado por gênio, esse romance promete trazer alegrias ao leitor, apesar de sua face ser considerada hermética aos menos afins. É necessário algum cuidado na leitura.
Esse cuidado não se resume a riscos, mas somente à interpretação do cinzelamento do romance. Apenas começa a leitura, o leitor percebe que o estilo é marcante e distinto. E diante de uma evolução que parece ser rotineira em vida de uma personagem, a explosão da simplicidade.