A princesa tristonha: Contos fantásticos; Quando a realidade transpõe a imaginação

Ela era uma mulher muito triste, abafada pelo legado, sua posição social e hierárquica não lhe permitia sair da linha de conduta. Raramente sorria ou encontrava motivo para se divertir; nada de material lhe faltava; porém amizade sincera, amor e aventura eram seus sonhos não realizados.
De família tradicional e poderosa na Arábia Saudita, ela era solteira, passada dos quarenta anos e ficava às sombras de seu poderoso pai e irmãos. Numa de suas infindáveis tardes de verão, enquanto visitava um emirado vizinho, sentiu-se feliz por estar no meio de mulheres comuns em um renomado salão de beleza. Camille estava sentada ao lado dela e mesmo sem saber que se tratava de uma princesa, notou que era uma mulher diferenciada, pois havia a presença de um cortejo de damas para servirem-na, trouxeram sorvete, goma de mascar e refrigerante. Num determinado momento esta mulher misteriosa estava a fitar seu par de sandálias novas. Ela achou engraçado o motivo daquela mulher que certamente era muito rica estar interessada em suas coisas, tudo era observado: a bolsa, a carteira, o relógio, a cor de esmalte escolhido; como se estivesse admirando-a e ao mesmo tempo imitando-a.
Camille era dançarina do ventre e entertainer reconhecida, viajava muito e atuava em diversos países árabes. Cantava, dançava e participava em comerciais de televisão; atualmente fazia shows em hotéis cinco estrelas e circulava na alta sociedade quando solicitada.
Sua vida tinha altos e baixos e naquele momento ela havia saído de um relacionamento sério com um médico egípcio de família rica e tradicional que lhe assegurava a vida financeira. A dançarina ria por dentro, tudo o que a outra admirava nela havia sido pago no crédito por conta do show privê que estaria realizando naquela noite.