A Flor Frondosa do Jatobá
Por José Humberto da Silva Henriques Esse romance de José Humberto Henriques foi premiado em concurso pela Universidade Federal de Goiás. É um livro de caráter introspectivo, cheio de surpresas e nada elementar. Tem tema rural. Porém, todas as suas circunstâncias movem os conceitos para a razão simples de tudo que aqui se lê. O livro é abrangente. É universal. Canta a tua terra e cantarás o mundo. Canta a tua aldeia, diz Tolstoi em plena lucidez de sua mente. Não foi á toa que esse livro espetacular foi escolhido a prêmio. Ele trata da vida de um camponês do estado de Minas Gerais, mostra todo o conflito de gerações que poderia estar pendente entre pessoas cuja cultura ainda estava em plenitude de desafios. Esses desafios que sempre acontecem nas províncias, ainda mais no estado de Minas Gerais, lugar onde o berro do boi demora mais de um dia para deixar a garganta do animal. J Humberto Henriques mostra o quão magistral é a sua criação em prosa. Deve-se dizer em prosa, já que o autor é poeta de lavra longa.
A título de reconhecimento do texto, veja-se esse primeiro capítulo de A Flor Frondosa do Jatobá.
João Luís Vieira Machado chegou no meio da cozinha quando eram as nove e trinta da manhã. Bem no meio da cozinha. Estava faminto e o almoço se punha pronto e cheiroso sobre as trempes e chapas de fogão velho. A lenha seca estalava de acordo com todas as maravilhas desse mundo. Ali era o lugar das beiras da Ponte Funda, o ribeiro de águas poucas que dava nome ao entorno inteiro. Mês de novembro, quando as águas aumentavam bastante por conta das chuvas que se arremetem em qualquer momento e com as farturas e seus motivos. O lugar da Ponte Funda era encravado com boas propriedades, ao longo do braço direito ficava o Cruzeiro da Fortaleza, apelidado o Mirréis; do outro lado do braço ficava a progressista Brejo Bonito, apelidada o Sapo e mais a contento, ao longo do Sul, ficava a Serra do Salitre, apelidada o Chapadão. Foi nesse mundo de vanglórias onde nascera João Luís Vieira Machado, homem de muitas vastidões de pensamentos e algumas necessidades de sonho que nem deviam ser confessadas, tamanho o empreendimento que deles surgia, mormente quando estava em idades de pensar coisas além de seus próprios calcanhares, seja o sendo, tinha que pensar em canelas femininas. Esse tipo de pensar que se desenrola dentro dos circuitos da criatura e outra vez se enreda, qual fosse um moto contínuo que desafia e prende, de tal forma que a cabeça está sempre a jacular esse tipo de impropriedade.
Dos oito irmãos, cada um deles enfiado nas surdinas de seu próprio mundo, ele era dos homens o do meio. Cinco mulheres e três homens, uma conta avantajada para um mundo que era amplo, mas que sofria lá as suas restrições. Da leva, ele era o penúltimo nascido, portanto, sempre rapa de tacho, sobrada a matéria assim somente no Gilmar, o único que tinha nome moderno demais, retirado de estampa bonita do goleiro das copas do mundo. O Gilllllllmar, como dizia avó Iolanda, a sua maneira de repicar os lllll, da maneira que faziam os antigos e que tinham o sangue mais ibérico do que africano. E por ser o mais novo, o Gillllmar era cheio das manias, não tinha os temores dos mais erados e nunca dava o braço a torcer diante das dificuldades das coisas todas. Chegava mesmo a rir da avó, dona Iolanda, apenas achasse um proveito para qualquer coisa assim. Depois, para se desculpar de atos cometidos, vinha a fungar o nariz, a buscar umas desculpas que nem mesmo do cu da gata poderiam ser sacadas. Essas manhas somente cabem de fato a um sujeito mofino e ladino – tudo ao mesmo tempo – como era o caso do Gilllllmar. Tinha vez, fingia ser um Zé Mané qualquer e depois se saía bem da questão, mesmo deixando avó Iolanda a ruminar sobre as inconseqüências vigentes dentro desse mundo.
Há livros que já nascem com o sangue clássico. É o caso desse compêndio. Profundamente humano. Esplendidamente mineiro. Até no rastro. Nesse livro, até as manias – como tirar cracas do nariz – têm nobreza sem aflição.
A título de reconhecimento do texto, veja-se esse primeiro capítulo de A Flor Frondosa do Jatobá.
João Luís Vieira Machado chegou no meio da cozinha quando eram as nove e trinta da manhã. Bem no meio da cozinha. Estava faminto e o almoço se punha pronto e cheiroso sobre as trempes e chapas de fogão velho. A lenha seca estalava de acordo com todas as maravilhas desse mundo. Ali era o lugar das beiras da Ponte Funda, o ribeiro de águas poucas que dava nome ao entorno inteiro. Mês de novembro, quando as águas aumentavam bastante por conta das chuvas que se arremetem em qualquer momento e com as farturas e seus motivos. O lugar da Ponte Funda era encravado com boas propriedades, ao longo do braço direito ficava o Cruzeiro da Fortaleza, apelidado o Mirréis; do outro lado do braço ficava a progressista Brejo Bonito, apelidada o Sapo e mais a contento, ao longo do Sul, ficava a Serra do Salitre, apelidada o Chapadão. Foi nesse mundo de vanglórias onde nascera João Luís Vieira Machado, homem de muitas vastidões de pensamentos e algumas necessidades de sonho que nem deviam ser confessadas, tamanho o empreendimento que deles surgia, mormente quando estava em idades de pensar coisas além de seus próprios calcanhares, seja o sendo, tinha que pensar em canelas femininas. Esse tipo de pensar que se desenrola dentro dos circuitos da criatura e outra vez se enreda, qual fosse um moto contínuo que desafia e prende, de tal forma que a cabeça está sempre a jacular esse tipo de impropriedade.
Dos oito irmãos, cada um deles enfiado nas surdinas de seu próprio mundo, ele era dos homens o do meio. Cinco mulheres e três homens, uma conta avantajada para um mundo que era amplo, mas que sofria lá as suas restrições. Da leva, ele era o penúltimo nascido, portanto, sempre rapa de tacho, sobrada a matéria assim somente no Gilmar, o único que tinha nome moderno demais, retirado de estampa bonita do goleiro das copas do mundo. O Gilllllllmar, como dizia avó Iolanda, a sua maneira de repicar os lllll, da maneira que faziam os antigos e que tinham o sangue mais ibérico do que africano. E por ser o mais novo, o Gillllmar era cheio das manias, não tinha os temores dos mais erados e nunca dava o braço a torcer diante das dificuldades das coisas todas. Chegava mesmo a rir da avó, dona Iolanda, apenas achasse um proveito para qualquer coisa assim. Depois, para se desculpar de atos cometidos, vinha a fungar o nariz, a buscar umas desculpas que nem mesmo do cu da gata poderiam ser sacadas. Essas manhas somente cabem de fato a um sujeito mofino e ladino – tudo ao mesmo tempo – como era o caso do Gilllllmar. Tinha vez, fingia ser um Zé Mané qualquer e depois se saía bem da questão, mesmo deixando avó Iolanda a ruminar sobre as inconseqüências vigentes dentro desse mundo.
Há livros que já nascem com o sangue clássico. É o caso desse compêndio. Profundamente humano. Esplendidamente mineiro. Até no rastro. Nesse livro, até as manias – como tirar cracas do nariz – têm nobreza sem aflição.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): José Humberto da Silva Henriques
- ASIN: B07B685CWM
- Idioma: Português
- Tamanho: 1287 KB
- Nº de Páginas: 292
- Categoria: Literatura e Ficção
Amostra Grátis do Livro
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