Ventríloquos (A Tragédia Humana Livro 6)

O
livro Ventríloquos, volume VI de A Cartilha Escatocrática já veio ao mundo depois desse período de recuperação de fôlego do autor. Porém, estávamos a falar das eleições de 2002, quando Lula seria eleito presidente da república e ia atolar o Brasil na maior catástrofe planetária que possa era imaginada. Um homem que fora muito paciente e esperou em torno das ideias de Fernando Henrique Cardoso para ser presidente. Começava a tragédia mundial. A se pensar bem, tragédia mundial, porque o Brasil sempre foi doador em todos os seus méritos e fundamentos. E como as relações humanas e continentais precisam e devem ser holísticas, nada se torna um movimento ou ciclo isolado. Ocorre que o presidente novo era ser de uma diplomacia demoníaca, sujeito sempre a distúrbios comportamentais. O seu maior problema era um distúrbio comportamental grave.
Não havia dinheiro que bastasse para encher a sua burra. Mentiroso por excelência, tendencioso, abarrotado de desvios de personalidade muito íntimos, o homem veio ao governo com a finalidade de formar a massa deficitária que levaria o Brasil ao confronto com as trevas. Humberto Henriques perdeu a eleição. Ficou em sua memória, em últimas instâncias de pensamento, que seu assessor, o mesmo que presidira o PTB através dos favores de Romeu Queiroz, vendera-se a outro candidato e deputado federal. Custo: um automóvel novo, um Fiat Uno. Mesmo preço do silêncio do Jumbinho. Era tudo muito engraçado. O romancista ia acumulando bônus devagar e sempre. Só passava pela sua cabeça que nem tanto precisava ser o material que lhe vinha. Senão, teria que escrever cem volumes para contar somente a metade d porcariada toda que assanhava o mundo político.
De fato, foi muita sorte ter perdido a eleição. O que viria depois no cenário político seria estarrecedor. As serpentes estavam soltas e vinham com cara de bichinho bonito, com face de flor e borboleta. Somente para fechar as façanhas ocorridas no período eleitoral, de se lembrar que os votos do candidato José Humberto Henriques, bem como aqueles de um candidato a deputado federal, médico, pneumologista e antigo vereador na comarca de Uberaba, o Dr. Heleno de Souza Araújo, foram furtados diretamente das urnas por um candidato também de Uberaba, já com mandato de deputado federal. Habituado a fazer isso em todas as eleições das quais participava, para esse deputado isso era tarefa comum. Isso veio à tona depois, quando os votos já tinham eleito de novo o mesmo homem.
A Tragédia Humana conta isso com detalhes. Porque, nessa altura dos acontecimentos e das escritas, A Cartilha Escatocrática deixara de existir para dar lugar a uma prosa mais abalizada, mais forte, mais potente. A consistência desse livro era autoridade suficiente para transformar seu nome para A Tragédia Humana. Depois, não mais seria mudado o nome – com a bênção e perdão de nosso mentor, Honoré de Balzac, diz o romancista – e os nove volumes chegariam ao topo de sua realização. Já passava a sofrer uma forte guinada a estrutura do entrecho. O que era política sumária passou a ser um estudo denso e muito mais introspectivo da alma do político. O que era bastidor e corredor passou a ser alcova. Com esse perfil renovado, o texto ganhou perspicácia e autonomia como romance independente e, de uma forma bastante razoável, um livro para gerações futuras.
Muito interessante com a imprensa e alguns repórteres atuam diante da derrota dos candidatos, explica Humberto Henriques com propriedade, exatamente por ter vivido a situação. Quando vão falar de um deputado que se reelegeu, fazem-no com a boca cheia de glórias, mesmo que ele seja um ladrão juramentado. Seus olhos brilham. A repórter chega próxima do êxtase. Em vez de se lastimar porque um detrator e traficante de cocaína ganhou as eleições, ela se agarra ao microfone e molha os panos com pingos miúdos e repetidos. Porém, quando se trata de falar do perdedor, diz que ele derrapou nas urnas. Seus olhos brilham mais ainda. De uma maneira