Velhinhos assassinos

Numa cidade populosa, desigual e violenta – e exatamente por estas razões -, poucos seguem uma rotina despreocupada e serena. Os mais afortunados ainda conseguem manter o controle das suas ações, se permitindo passar parte do tempo em viagens de turismo ou frequentando ilhas de bem-estar social, ou seja, enclaves bem protegidos em meio ao entorno perigoso e hostil. Por outro lado, em estratos sociais medianos e baixos, esta rotina é marcada por uma existência turbulenta e insegura devido à incompetência, descaso e ambição desmesurados de políticos e autoridades. No mundo contemporâneo existem incontáveis cidades com este perfil, e estas populações vão se tornando reféns de grupos que se apropriam de suas vidas, ou de decisões arbitrárias do poder constituído ou imposto. A felicidade é coisa do passado, ou encontrada em latifúndios de fotos de pessoas sorridentes expostas nas redes sociais.
Neste mundo distópico, a conformidade nem sempre é a regra e muitos buscam soluções alternativas deslocando-se para regiões onde a existência sem sustos é ainda assegurada ao cidadão. Contudo, estes locais estão aos poucos desaparecendo, contaminados pelas mesmas práticas ou conjunturas inesperadas. Dessa maneira, viver em liberdade e sem ameaças pode ser uma questão de honra para alguns; gente que está disposta a fazer prevalecer suas convicções. Mas, para isso, algo tem que ser feito, e isso não é uma tarefa fácil. Do ponto de vista de alguns inconformados, não bastariam ações de natureza local como projetos sociais exitosos, copiados pelos quatro cantos do mundo. O papo é reto, e a ação deve mexer com a estrutura de funcionamento do mundo globalizado. Muito pretensioso? Sim, não conseguiriam resultados através de guerrilhas ou de ações explosivas para desestruturar as bases do sistema – meios de confrontação muito utilizados, mas impopulares e atualmente bem vigiados. Os inconformados não foram treinados para isso, não têm exércitos, e são velhos.