Vasto mundo

A novela soa a uma fábula urbano-fantástica, uma charada, algo entre Pequeno Príncipe e Alice no País das Maravilhas. Longe de ser uma história realista, tem muito de escapismo, de transfiguração da realidade crua e nua, pela visitação que Ramiro faz ao Vasto-Mundo (um lugar intangível, alcançado em momentos específicos, mas nunca exatamente da mesma maneira), enquanto Carlinhos prefere permanecer com os pés e o estômago – sua maior urgência é fome – no Submundo (mundo da matéria). Embora se sinta diferente por apenas ele transitar entre os dois mundos, é o Vasto-Mundo que Ramiro considera o seu universo, onde “não havia distinção por imagem; as pessoas viam-se pelo caráter”, o que deve reconfortá-lo, uma vez que sua cor e aparência maltrapilha são sempre alvo de olhares preconceituosos e implacáveis dos habitantes do Submundo. Um livro que nos deixa reflexivos, ao mesmo tempo que nos toca com sua poesia áspera e pungente da realidade.

Kyanja Lee