Uma monarquia tradicional: Imagens e mecanismos da política no Portugal seiscentista
Por Antonio Manuel Hespanha Recapitulam-se, neste livro, os grandes traços – digamos, constitucionais – do reino de Portugal num período crítico, mas também emblemático da sua história. Procuramos desviar-nos de clichés e de ideias feitas. Insistimos muito nos factos, sobretudo em factos massivos cuja lógica de conjunto normalmente escapa a abordagens impressionistas ou dirigidas por ideias prévias. Não raramente, o que surge é quase o contrário do que se imaginava encontrar. Isso acontece, por exemplo, em dois temas mais monográficos de que aqui evocamos – o sentido político global da reforma dos forais de D. Manuel I e a reação das cortes de 1641 à restauração de uma dinastia portuguesa. No primeiro caso, o que se desvanece é o alegado sentido centralizador que se dava à medida. No segundo, o que não se confirma é esse entusiasmo coletivo perante a mudança política ocorrida no centro da monarquia. Outros capítulos também serão surpreendentes para os leitores menos informados dos novos rumos da história política. Aquela imagem de um reino centralizado desde cedo não é a que propomos como correspondente ao que as fontes históricas nos dizem. O mesmo acontece com a imagem de um “império” colonial com um projeto pensado, uma unidade de mando, uma administração controladora e despótica da empresa colonial. Mesmo nos aspetos mais técnicos – mas não menos decisivos para entender a lógica do conjunto -, como a gestão da fazenda e a organização militar, anotamos a mesma falta de um centro e de um cérebro. Tudo se reparte por muitos comandos, tudo obedece a várias lógicas particulares, frequentemente contraditórias, e tudo reage aos esforços de centralização que a situação militar seiscentista então tornava urgentes.In this book we recapitulate the great traits – let us say, constitutional traits- of the Portuguese monarchy in a critical (but also emblematic) period of its history. We try to get away from clichés and common ideas. We insist very much on the facts, especially on mass facts whose general logic usually escapes an impressionist glance. Not infrequently, what emerges is almost the opposite of what one anticipated to find. This is the case, for example, of the pair of more monographic themes we handle here – the overall political sense of Manuel I’s reform of forais and the reaction of the cortes of 1641 to the restoration of a Portuguese dynasty. In the first case, what fades away is the alleged centralizing sense of the measure. In the second, what is not confirmed is this collective enthusiasm for the political change experienced in the centre of the monarchy. Other chapters will also be surprising to less informed readers of the new directions in political history. That image of an early centralized monarchy is not what we propose as corresponding to historical sources. The same is true of the image of a colonial “empire” with a thoughtful project, a unity of command, an effective and despotic colonial administration. Even in the more technical – but no less decisive in understanding the logic of the whole – aspects, such as financial management and militar organization, we note the same lack of a centre and a brain. Everything is ruled by many political commands, obeying to different particular logics, often contradictory, and each one reacting to the efforts of centralization that the military situation made urgent.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): António Manuel Hespanha
- ASIN: B07P74RQK3
- Editora: Ed. Autor
- Idioma: Português
- Tamanho: 7523 KB
- Nº de Páginas: 469
- Categoria: História
Amostra Grátis do Livro
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