Uma História para Mariana: Davilmar Santos

Auto, na linguagem de teatro, tem sua origem no latim actus e se refere a uma peça de curta duração, quase sempre um ato, cuja temática pode ser religiosa ou profana, séria ou cômica. Os primeiros registros de sua utilização são encontrados na literatura do período medieval; eram pequenos trabalhos que tinham a finalidade de divertir, moralizar ou difundir a fé cristã, mostrados nas praças públicas, igrejas ou salões dos palácios. No Brasil, eram apresentados nas igrejas, escolas e ao ar livre, algumas vezes tendo a selva como cenário natural.
Uma história para Mariana é fruto de minha experiência de trabalho com o grupo de jovens da comunidade católica brasileira, da qual participei nos anos 2000, em Astória, Nova Iorque. Dentre suas atividades, havia um jantar de confraternização que acontecia, sempre, ao final de um ato religioso no final do ano. Foi então que surgiu a ideia de iniciar o jantar com a apresentação de uma peça teatral com os jovens da comunidade.
A escolha do texto foi um problema que tivemos de enfrentar, devido à pouca oferta de material adequado à faixa etária desses jovens, que atendesse aos requisitos da entidade mantenedora, voltada para a família e para a comunidade ao mesmo tempo. Diante dessa situação, a solução encontrada foi produzirmos o próprio texto. Assim, surgiu Uma história para Mariana – Auto de Natal. As adaptações à realidade desse grupo eram exercitadas a cada ensaio. Linhas e situações eram alteradas para atender as limitações de cada participante, até chegarmos ao texto final.
Os ensaios foram iniciados três meses antes do final do ano e as famílias dos jovens envolvidos acabaram participando, de uma maneira ou de outra, ajudando na construção do cenário, confecção de figurinos, serviços de eletricidade e de som, etc.
Claro que a apresentação, que durou cerca de 40 minutos, foi um sucesso que permanece na memória de todos que estiveram presentes naquela noite de confraternização. Para alguns, ter participado de um trabalho de criação coletiva como aquele foi uma experiência inovadora de valor inestimável, que possibilitou uma visão diferenciada do mundo em que vivemos.
A publicação deste trabalho ocorre depois da constatação de que os mesmos obstáculos encontrados naquele ano e no seio daquela comunidade, continuam existindo nos dias de hoje, quando se planeja realizar um trabalho desta natureza, envolvendo jovens e seus familiares.
A montagem de uma peça como esta não precisa, necessariamente, ficar restrita aos limites de quatro paredes, como uma escola, um clube, associação ou mesmo uma igreja. Ela pode ser apresentada numa praça pública, na calçada de uma instituição, no auditório ou refeitório de um hospital, asilos para idosos e, até mesmo em carrocerias de caminhões.
Também, vale a pena mencionar que, dependendo do “olhar” de quem coordena o trabalho, há todo um universo a ser explorado no tocante à improvisação de cenários e aproveitamento de outros recursos locais, tais como bandas de música, corais e conjuntos regionais, etc.
Para encerrar, devo dizer que me sinto feliz por compartilhar essa experiência com todos que se interessam pela divulgação e incentivo às artes de qualquer natureza.
O Autor