UM BEIJO DE CHUVA

Trata-se de um breve romance que relata o amadurecimento gradual próprio à adolescência, período em que se busca uma identidade pessoal e social. Nesse tempo de transição, é comum a todo indivíduo que cresce, espelhar-se em comportamentos (conceitos e atos) dos amigos um pouco mais velhos e, falsamente, mais experientes. Conhece-se os rompantes dos primeiros amores, ainda tímidos; desperta-se para o mundo em passos incertos que buscam amparo e aprovação dos mais “espertos”; vivem-se aventuras surpreendentes, sempre maiores que de fato são.
É nesse enfoque, instalado num tempo que oscila entre o final dos anos 60 e início dos 70, tendo como pano de fundo um então bairro periférico, ingênuo até certo ponto, habitado por pobres explorados, retirantes em busca de seu chão, aposentados que obtiveram um lote para construir sua morada ao fim da vida. O clima é um tanto onírico, fantasioso como o próprio modo dos adolescentes visualizarem o mundo.
Narra-se, em síntese, as experiências e o amadurecimento de Toni (Antonio) — um menino que descobre a rua, suas amizades e busca de liberdade —, tendo como respaldo e exemplo um amigo pouco mais velho, Bá, criado livremente nas ruas da periferia, propalando-se autentico sabichão sobre a vida, o sexo, a determinação (quase que imposta) de mostrar-se duro, macho, indômito. Há o assombro do protagonista, sua luta por não se acovardar, sua admiração e lealdade a um mestre que o surpreende sempre.
Enfim, penso que a obra, fale igualmente sobre o “tempo”, sua ação na formação dos indivíduos e sua pesada mão sobre os seres humanos, transformando-os dia a dia. Há “ganchos” para virar uma trilogia, caso tenha boa aceitação no mercado.