Tupiniquim: Classe–Média

Uma distopia que não é distopia. Melhor: uma distopia em que o personagem principal não exatamente sofre pelo que caracteriza o ambiente da história como uma distopia; ele sofre, vive, normalmente da mesma forma que nós mesmos vivemos sem caracterizar nossos dias como uma distopia… acho que fazemos menos disso a cada dia que passa.

E o que é distópico nessa história? A Amazônia foi queimada (além de uma extinção generalizada de animais e plantas) e as regiões Sudeste e Sul do Brasil se transformaram em desertos áridos, a temperatura é extremamente elevada e ninguém aguenta ficar fora de ambientes internos como casas, carros, shoppings, que possuem ar-condicionado; o desemprego está nas alturas devido à revolução tecnológica que finalmente criou androides para assumir determinadas funções que não necessitam de mão de obra especializada, sendo que está-se desenvolvendo androides cada vez mais… humanos e não há renda básica universal; água potável se torna mais escassa, ocasionando a expansão de empresas dessalinizadoras para que a água do mar possa ser engarrafada e vendida; algum acidente ou guerra nuclear aconteceu e o pó que varre as cidades é tóxico, devendo-se evitar ser inalado; por fim, a vida só pode ser suportada através de um regulador hormonal e displays nas janelas dos apês e carros que escondem a multidão de pessoas em situação de rua protestando contra um governo inepto e negligente e a tristeza das cidades sem nenhum verdor.

(In)Felizmente, não é nada disso o principal motivo de sofrimento do personagem principal, ele não é perseguido pelo governo e nem é um revolucionário e nem apercebe toda essa realidade distópica ao seu redor. Aliás, percebe e não liga. De fato, essa é uma história caracterizada por ser uma negação; não se trata do que acontece, mas do que não é visto ou dada a devida importância. A vida acontece e uma andorinha não faz verão.