Todos os abismos convidam para um mergulho

“Sim, vocês estão presos…”
Quais são as consequências de um estrago? O quanto nossas vidas resultam de uma combinação de erros? Ou de uma combinação de omissões e silêncios? A autora apresenta em seu romance Todos os abismos convidam para um mergulho uma anti-heroína que não come o pão que o diabo amassou, pelo contrário, Beatriz leva o diabo para a cama e depois o expulsa antes do badalar da meia-noite.

“Eu só quero trepar. (…) Para de me beijar, porra!”
Uma anti-heroína que se atreve a desbravar os piores precipícios – aqueles que tentamos ignorar, pois apontam falhas, vícios e omissões. É preciso coragem para caminhar com Beatriz; é preciso desvestir os moldes da hipocrisia.
O leitor se verá diante de uma obra que quebra estereótipos, rompe com o status quo e possibilita um mergulho na vida de uma narradora tão comum e ao mesmo tempo tão incomum no protagonismo feminino literário. Beatriz está no inferno real, mergulhada em um umbral impregnado de fantasmas, lutos não trabalhados e uma insistência em permanecer viva em um Hades cotidiano e depressivo.
“Apesar de todos os riscos, eu quero ir além.”
E seguimos Beatriz, nossa guia contraluz, nossa guia que nos faz descer ao inferno interior e sentir que também somos parte de um todo despedaçado: um mundo que não perdoa mulheres e crianças; um mundo que produz homicidas, suicidas e estupradores.
“Mas continuo sem saber quem eu sou, quem eu quero ser. Existe uma parte de mim que já não consegue sair do escuro. Uma parte que eu não alcanço mais.”
Tenham coragem, caríssimos leitores, e mergulhem.

Lisa Alves