Titicaca: Em busca dos antigos mistérios pré–colombianos

Quando coloquei meus olhos sobre o Titicaca pela primeira vez, tive a certeza de estar envolvido em um “amor à primeira vista”. Em 1985, aquela paisagem desafiou minha imaginação, guardando algo que não pude compreender inicialmente. Talvez, um dos grandes motivos de tê-lo escolhido como palco para uma expedição anos depois, tenha sido a curiosidade. O fato de nunca saber ao certo o que iria encontrar. Faltavam-me mapas e detalhes sobre várias regiões. Não existiam informações sobre povoados, estradas, trilhas e costumes. Rastreei, durante um ano, tudo o que podia, até chegar o momento em que “percebi seu chamado”. Era hora de partir. Dali em diante, aprenderia no próprio terreno, sentindo de perto o que ele tinha a me oferecer. Confesso que tive medo. Aquela insegurança estúpida que aprendemos a cultuar em nosso dia-a-dia nas grandes cidades.

O Titicaca iniciou seu ensinamento antes mesmo que eu pudesse sair do Brasil. Aprendi que, se existe uma coisa de especial na vida de um expedicionário, está resumida em um único princípio: escolha. Você precisa desejar esse tipo de coisa e aceitar, sem restrições, todas as consequências decorrentes dela. O restante – sorte, azar, felicidade, aprendizado, prática, emoções, aventuras, descobertas e fracassos – virão com o tempo, de forma natural. Mas, antes de tudo, você precisa escolher. Por este motivo, não sinto orgulho do que faço, apenas sigo meu coração e meu instinto.

Ser um expedicionário significa estar consciente do que você está sujeito. Implica em dizer “sim” a tudo que acompanha essa atividade: ter um espírito aventureiro, correr riscos, sentir emoções extremas, chorar de dor e de alegria, manter uma autodisciplina, descobrir qual o limite de suas capacidades, vencer desafios, e tanto mais… Ao mesmo tempo, a vida de um expedicionário não é – ao contrário do que muitos imaginam – um “mar de rosas”. Existem responsabilidades imensas que ocupam a maior parte do tempo. Cálculos intermináveis, projetos, pesquisas em bibliotecas, correspondências sem fim, negociações e prestação de contas com patrocinadores, montagem de exposições, artigos e livros. Mesmo assim, muitos ainda me dizem que tenho sorte por levar esse tipo de vida, imaginando que tudo se resume em colocar uma mochila nas costas e viajar. Reclamam que jamais tiveram esse tipo de oportunidade. A verdade continua sendo esta: se você tem medo de perder seu emprego, ser chamado de louco, receio de não encontrar um chuveiro quente pelo caminho ou de passar fome e frio em regiões isoladas… então, meu amigo, você já fez sua escolha!

Contornar o Titicaca a pé, em uma expedição solitária, consumiu três meses de minha vida! Foram mais de 1.300 Km em altitude, carregando minha própria mochila. O objetivo principal: coletar relatos de mitos e lendas da região, e descobrir ruínas de civilizações perdidas que o tempo esqueceu. Vestígios de civilizações anteriores aos Incas! Acabei por tornar-me o primeiro brasileiro a contornar o Titicaca a pé. Talvez o primeiro a fazê-lo, uma vez que os próprios aymaras me perguntavam constantemente o que havia na margem oposta!

Pirâmides, templos, sepulturas…Mais do que tudo isso, o Titicaca me acolheu e me ensinou o significado da vida. Como um sábio ancião, me mostrou os mistérios ilimitados de seus domínios. Como expedicionário, me lancei à antiga sabedoria indígena e ao milenar mundo das antigas civilizações desaparecidas, sonhando com tesouros e ruínas jamais vistos.

E se não pudermos nos permitir ao menos isso, eu lhes pergunto: de que vale a vida afinal?