TEOLOGIA DA LINGUAGEM EM GÊNESIS: A Imagem de Deus na História e na Criação

Apresentação
Segundo as Escrituras o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus.
A doutrina da imagem de Deus procura responder a seguinte pergunta em termos genéricos: em que sentido o homem é imagem de Deus?
O texto de Moisés que cita a imagem de Deus no homem se encontra em Gênesis, capítulo um, versículo vinte e sete:
– Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.
A palavra imagem no hebraico vem do termo tselem e do grego eikón, significando a idéia de que a imagem tem a participação da natureza essencial e básica do Criador.
Entende-se que o homem participa da natureza espiritual e moral de Deus, embora não de sua divindade essencial.
Para Champlin, as discussões sobre os termos hebraico e grego envolvidos, não ajudam muito a entender a questão da imagem.
São palavras por demais plásticas e ambíguas, não dando indicações precisas.
Por isso, não dá para entender o sentido da imagem pela definição das palavras, mas só por meios interpretativos.
Pela indefinição do termo imagem em Gênesis, existe muita discussão sobre a imagem de Deus no homem.
O primeiro a pensar mais precisamente sobre a imagem de Deus foi o filósofo judeu Fílon de Alexandria.
Que viveu no primeiro século da era cristã, que influenciou posteriormente, com a sua filosofia, a doutrina da imagem de Deus no Cristianismo.
No período patrístico, que abrange do segundo ao oitavo século, houve influência da filosofia grega, principalmente a de Platão na interpretação da imagem de Deus.
No período escolástico, que teve a influência da filosofia de Aristóteles, a imagem de Deus foi analisada por Boaventura e Tomás de Aquino.
Na Reforma do século XVI, Martin Lutero e João Calvino estudaram a imagem de Deus, tendo cada um uma conclusão diferenciada, ambos foram influenciados pelo humanismo e pelo movimento da renascença.
Na teologia católica romana permaneceu uma compreensão diferenciada da Reforma, que afirma a impossibilidade da destruição da imagem de Deus, isto porque a imagem faz parte da substância do homem.
Na teologia contemporânea a imagem de Deus foi também analisada por vários teólogos. Berkhof, que é um teólogo americano protestante, afirma que a essência do homem consiste em ser ele a imagem de Deus.
Lacy investiga a imagem de Deus, mostrando que existem três características dela no homem: personalidade, santidade e autoridade sobre a criação. Munyon, numa perspectiva da teologia pentecostal americana, a imagem de Deus se expressa no aspecto moral-intelectual-espiritual.
Erickson, teólogo americano, entende que a imagem de Deus tem três concepções diferenciadas: substantiva, relacional e funcional. Wolff, teólogo alemão, estuda a imagem de Deus, e pensa que através dela o ser humano foi criado para ser o regente administrador do mundo.
Filósofo francês Ricouer analisa a partir dos Pais da Igreja a imagem de Deus, dizendo que é tarefa de todos os séculos refletirem de forma renovada esse símbolo indestrutível, que pertence também ao futuro.
Porém, em Gênesis sobressai aos olhos de que uma característica bem visível da imagem de Deus é a linguagem.
É aquilo que Lacan designou como a função criativa da palavra, em que a função inventiva da palavra institui-se na estrutura do mundo semântico das palavras, que é o da linguagem.
Toda palavra sempre tem um mais além, sustentando muitas funções e envolvendo muitos sentidos.
Quer dizer que atrás do que se diz um discurso há o que ele quer dizer, e atrás do que quer dizer há ainda um outro querer-dizer.
Nada nunca será esgotado, se não é o que se chega ao fato de que a palavra tem função criadora, podendo ser uma palavra cheia que leva a ação, ou uma palavra vazia, a fala sem efeitos.
Na comunicação da linguagem existe sempre um mais além, uma nova concepção e um novo questionamento.
Na palavra, há múltiplos sentidos, um mais além da palavra, que precisa buscar uma outra palavra, mais profunda, de tal modo, o que quer dizer nem