Telenovela transmídia na Rede Globo: O papel das controvérsias

Este livro é resultado de uma pesquisa de doutorado de quatro anos, cuja tese identificou e analisou o papel estratégico da controvérsia no modelo de produção transmídia adotado pelas telenovelas da Rede Globo. Para isso, assume que: 1) a telenovela é um produto televisivo especialmente vocacionado para produzir controvérsias, devido às características do gênero (sua processualidade e origens ligadas ao melodrama), 2) a controvérsia é constitutiva da cultura de fãs e das interações de redes sociais digitais, no contexto da cultura participativa. Apoiada nesses pressupostos, a obra mostra como a Globo faz um uso deliberado da controvérsia, a partir das conversações em rede sobre e a partir dos enredos de suas telenovelas promovidas por suas estratégias de TV Social. Mostra também como a principal emissora do país monitora essas conversações em rede e faz um uso estratégico das informações propiciadas pelas controvérsias para gerenciar a participação do público, mesmo quando esse tipo de troca polêmica não resulta de suas provocações e propósitos. Baseada no acompanhamento das 25 telenovelas da Rede Globo exibidas entre janeiro de 2014 e outubro de 2017, a pesquisa realiza por meio de análise de conteúdo a categorização dessas controvérsias, a partir das práticas interpretativas, tópicos conversacionais e nos interagentes envolvidos (fãs, produtores, espectadores casuais, anti-fãs e não-espectadores). Para chegar a esses resultados, foi observado, pelo mesmo período e com a ajuda de ferramentas de monitoramento, o Gshow, portal de entretenimento da Rede Globo, e seus perfis nas plataformas Twitter e Facebook. Foi realizado também um extenso levantamento bibliográfico que envolveu desde estudos sobre culturas de fãs e transmidiação às teorias da controvérsia e da conversação em rede. Comprovando que as controvérsias são um recurso preponderante nas conversações em rede em torno das telenovelas da Globo, esta pesquisa espera colaborar para uma melhor compreensão dos modos de interação numa cultura de convergência e participativa na qual as trocas entre produção e recepção estabelecem fronteiras cada vez mais embaçadas.