TATUAGENS DE SANGUE (COLEÇÃO TRANSMUTAÇÕES Livro 1)

Ambientado numa época crucial para a história do Chile, a ascensão ao poder de Salvador Allende, o primeiro presidente marxista eleito pelo voto direto, pela vontade popular e as violentas reações internas e externas, notadamente dos Estados Unidos, Nixon, Kissinger, a CIA, a ITT, a Pepsi-Cola… Tatuagens de Sangue mistura realidade e fantasia.
Dois jovens de Santiago se conhecem e iniciam um romance pouco provável: o namoro de um garoto muito rico e uma menina favelada. Imediatamente surge o preconceito de ambas as famílias que não aceitam esse amor.
Ante às pressões crescentes, os jovens — Xavier e Corina — decidem fugir. Ele apropria-se de uma moto de seu pai e saem sem destino fixo rumo ao norte do Chile. Ambos são partidários e eleitores de Allende e após a eleição, participam dos chamados “Comités de Unidad Popular” e “Juntas de Abastecimientos y Precios”. Com o tempo, vão vivendo cada vez mais longe de Santiago. Entram em contato com Verônica, a mãe de Xavier, que, às escondidas, começa a lhes enviar dinheiro mensalmente. Enquanto isso, os jovens começam a fazer alguns trabalhos pare sobreviver.
Um dia, passam por uma praça onde há uma feira de artesanato e chama-lhes a atenção uma barraca — a única fechada — onde um cartaz anuncia tatuagens feitas por um indígena brasileiro que, ao perceber a curiosidade dos jovens, lhes explica que as tintas usadas são preparadas com pigmentos da floresta amazônica, dissolvidos em óleos de peixes da mesma região. Corina propõe fazer uma tatuagem especial, uma espécie de pacto de sangue e cerimônia nupcial. Decidem tirar um pouco de sangue deles e misturá-lo às tintas e se juram amor eterno. No corpo dela, uma imagem de Xavier e no corpo dele uma estampa de Corina, extraordinariamente parecidas, quase uma fotografia.
Enquanto isso, o texto relata os acontecimentos políticos, atentados e manobras para derrocar o governo democrático e constitucional. Descreve as singulares paisagens desse longo e estreito país chamado Chile e as reações e conflitos que as duas famílias vivem em Santiago.
Pouco tempo depois, Corina engravida e Xavier descobre que a imagem desenhada no seu corpo começa a sofrer as mesmas alterações fisiológicas que a própria Corina experimenta. Essa vida que se desenvolve no corpo de Xavier começa a subtrair-lhe energia vital, debilitando-o notoriamente até deixá-lo prostrado na cama.
Desesperada, Corina liga para a família do jovem em Santiago e após reações diversas, os pais dele e um médico de confiança viajam a Combarbalá, cidade onde os jovens moram. O médico não descobre nenhum sintoma físico e resolvem levá-lo para Santiago onde há melhores recursos, mas a medicina nada pode fazer por ele.
Xavier está cada vez mais débil e acompanha com apreensão, os acontecimentos. Em 11 de setembro de 1973, dia do golpe de estado que derrubou o governo de Allende, sua saúde piora. “Eu nunca renunciarei à vida. Ela, a vida, se quiser, terá que desistir de mim.” — Pensa o jovem, agonizante e nessa mesma noite, morre. É enterrado em plena vigência de um toque de recolher que parece eterno: mais de 70 horas em que os chilenos sequer podiam abrir as janelas que davam para as ruas.
Misteriosamente, a tatuagem some do cadáver de Xavier e os sogros pedem à Corina que fique com eles, porque veem nessa criança que vai nascer, uma continuidade da vida de Xavier. Ante a insistência, ela acaba aceitando.
A tatuagem fica a perambular perto de Corina e durante a noite, alimenta-se com sangue. Talvez o sangue misturado às tintas justifique que seja hematófaga.
Quando o filho de Xavier e Corina nasce, o inesperado, o inexplicável acontece.