SONHOS ETNOGRÁFICOS E ETNOLOGIA DO SONHO

Partindo de meus sonhos, nesta aventura por uma Antropologia do sonho, havia escolhido como título, uma nova palavra – “conto-sonho”, que marcasse logo a diferença entre os sonhos, em seus conteúdos quase sempre enigmáticos, e o que se poderia dizer como narrativas a partir de seus conteúdos. Sendo os sonhos uma comunicação de cada um consigo mesmo é como se fosse uma comunicação sem linguagem – ou seja, enquanto sistema coletivo, convencional. Alguns de meus sonhos, portanto, serão contados aqui como contos, pois das imagens oníricas pode-se construir, na lógica narrativa, uma estória na qual valem as associações de ideias. Considera-se que os conteúdos dos sonhos são suscitados por experiências e pensamentos que tivemos na véspera. Me ocorrendo de sonhar sobre um contexto passado ou mesmo antigo de vida, procuro encontrar nestes elementos do vivido e pensado bem recente o mecanismo de acionar o trabalho de elaboração de sonhos.
Os sonhos passam das tradições culturais e folclóricas universais, onde foram se acumulando até passarem a ser tratados por vários campos das ciências humanas, desde a Psicanálise (com a hipótese de inconsciente), passando pela Medicina, Filosofia – ver Anne Dufourmantelle e mais recentemente pela Sociologia – ver Bernand Lahire, “A Interpretação Sociológica dos Sonhos”, Paris, La Découverte, 2018; e pela Antropologia. Ultimamente fala-se de geografia dos sonhos, não como uma nova disciplina, mas como consideração de dimensões espaciais e geográficas dos sonhos, e inclusive nos novos dicionários de interpretações dos sonhos.
A evolução dos últimos séculos, quanto à visão de mundo, da vida e do homem, permite-nos partir de um modelo triangular – mais uma vez a vantagem do triângulo – e de recursividade entre as dimensões: A) individuais, psicológicas; B) fisiológicas, cerebrais; C) e culturais, quanto aos contextos culturais nos quais os sonhos se formam. Trata-se de reconhecer a dialógica do biológico/ cultural; e individual/ coletivo. Como em círculos concêntricos partimos do mais pessoal chegando ao mais coletivo, em busca de universalidade do Homem. Na bibliografia comentada indicamos alguns exemplos de estudos, segundo os universos culturais específicos.
“É possível, acredito, cobrir todo manifestação dos sonhos, sob pena de mata-los em conceitos e teorias fechadas. E este é o grande mérito deste trabalho: descrever o onírico sem a ambição de aprisiona-lo em uma nova teoria, mas sim desenhando um modelo aberto a novas reflexões. É um trabalho que nos incita a também sonhar e a pensar sobre nossos sonhos”. No prefácio de Marcelo Bolshaw Gomes.
Obras mais recentes
Magia brasileira – Zé de Regina, Ed. Assis Lourenço, Ferreiros, 2015.
Une mythologie brésilienne, Harmattan, Paris, 2014.
Mitologia da Mata ao Sertão, Ed. UFPE, Recife, 2013.
Plantes médicinales et complexité, Harmattan, Paris, 2013.
Magie, Ethnomédecine et Religiosité au Brésil, Harmattan, Paris, 2013.
Quéssia Voltou, Ed. Assis Lourenço, Ferreiros, 2013.
Quéssia, divindade homem-planta, Ed. Assis Lourenço, Ferreiros, 2012.
Andanças e Devaneios – Louvação, Ed. Assis Lourenço, Ferreiros, 2011.
Cadernos de História Ferreiros 1, Ed. Assis Lourenço, Ferreiros, 2011.
Terapia panteísta ou religião da natureza, Massangana, Recife, 2010.
Complexidade: Educação, Cultura e Civilização, Ed. UFPE, Recife, 2010.
Planta, remédio, América Latina, M&A Publishers, Strasbourg, 2008.

Livros disponíveis no amazon.com.br (e-books):

Triângulo ABC da complexidade, Amazon, 2013;
Quéssia, divindade homem-planta, 2014;
Quéssia voltou, 2014;
José os seus e o mundo – Auto exo ecobiografia, 2014;
Galeria pessoal, 2014;
Carta baralho, 2014;

COLEÇÃO ANTROPOLOGIA BRASILEIRA – 9 volumes: