Songamongas (A Tragédia Humana Livro 7)

U
ma vez passado o período eleitoral, Humberto Henriques se recolheu ao seu merecido conforto e descanso. Retomou a atividade de médico e em serviço público do qual tinha se afastado devido a ordem constitucional relativa a eleições, ateve-se outra vez a uma vida normal. E o material que recolhera era enorme. Estava com todos os livros bem delineados dentro da cachola. Precisava dispor de tempo para promover aquilo. Alguns volumes já estavam prontos. Mas era preciso se referir a coisas mais magmáticas, como no dia em que houve a carreata sobre o carro dos bombeiros pelo centro de Uberaba. Aécio Neves estava a presidir toda esta euforia. Uma enorme euforia. Ao lado de um assessor mambembe eu subiu, ali na Praça Rui Barbosa, no caminhão dos bombeiros. O caminhão estava adaptado para receber os políticos. Era uma festa e tanto. Até eu fiquei tocado!
Aécio Neves era candidato ao governo do estado de Minas Gerais e naqueles dias um promissor candidato a presidência da república. Era a ordem natural e vigilante de tudo. Ele seria, um dia, presidente do Brasil. Neto de Tancredo neves, nada depunha contra ele. Pelo menos por enquanto. Aécio tinha amigos em Uberaba e vinha a esta terra regularmente. Tinha a casa do deputado Marcos Montes como seu refúgio. E mantinha bons encontros com Mário Franco Júnior. Ora, isso tudo deve mesmo ser mesmo muito natural em toda e qualquer circunstância. Alguns anos mais tarde, de possível presidente da república, Aécio tinha que estar fugitivo ou atrás de mandato para escapulir da penitenciária.
Pois foi bastante esdrúxulo tudo isso que aconteceu ali na Praça Rui Barbosa, na boca de onde tem o calçadão, naquele tempo já havia o calçadão lá, bem diante de onde um dia foi o Bar 1001, lugar onde o caminhão dos bombeiros estava estacionado para que os candidatos da coligação PSDB, PTB, DEM e não sei mais o que, subissem. Eram uns dez partidos coligados, senão mais que isso. Isso é um fato muito pitoresco e que mostra com nitidez como é que funciona uma campanha política. Como é que se comportam aqueles que fazem as tais campanhas. Dia ensolarado. Domingo de muito sol e Aécio Neves em Uberaba. Aécio era a bola da vez e todos queriam estar ao seu lado e tirar fotografias. Uma cosia extraordinária. Marcos Montes se agarrava a ele igual a carrapato. Chegava a ser constrangedor.
Pois que houve um passeio ali pelo calçadão da Rua Artur Machado, caminharam até o nível do bazar Azul antigo, onde é hoje a Choperia do Mário, nível da praça da Árvore. Todos os políticos atrás do Aécio Neves. Sem exceção. Uma procissão considerável. Marcos Montes ia ao seu lado, atarracado ao seu braço, meio que cavalgando a imagem que ia sobre a calçada. Disse o escritor, eu ia por ali, ao lado, sem me arriscar a chegar muito perto porque via as cotoveladas que o deputado Marcos Montes distribuía em quem ousasse. Havia muitos risos nos ares. Aécio estava feliz como ninguém. Afinal de contas, estava com a reeleição garantida, seria novamente governador da terra de Tiradentes. Tudo andava de vento em popa. Fahim Sawan, deputado estadual, estava por ali e era um dos mais favorecidos candidatos a prefeito de Uberaba nas próximas eleições.
Como mudam as coisas e destinos. Fahim Sawan pôs-se em descrédito à medida que o tempo passou. Ele mesmo colheu os frutos daquilo que plantou. Seu último cargo foi um favor recebido do prefeito Paulo Piau – foi secretário de Saúde, uma arrumação para dar a ele o suporte para respirar e nutrir-se -; todo mundo que esse prefeito sempre foi afeito ao favorecimento. Mas o que se dizia, sobre o picaresco tombo que o deputado Aelton Freitas sofrer diante do caminhão dos bombeiros. Vinha de lá, da Rua Artur Machado em direção à Praça Rui Barbosa a fileira de assessores e candidatos a deputado. Vinham naquela alegria rumorosa de quem sabe que as alegrias estão sempre em estado apical.
Adiante vinha Aecinho tirado pelo braço de Marcos Montes. Aelton Freitas vinha ao lado, mais receoso de rece