Sobre Confinar e Florescer

Uma enfermeira que, paradoxalmente, lida com doenças e carrega consigo o medo da morte, durante sua atuação na linha de frente do atendimento aos pacientes com Covid, se contamina. Nos seus dias de confinamento, entre o quarto e o pequeno pátio, driblando as incertezas e lutando contra os seus monstros, decide se aliar à escrita e colocar em palavras alguns dos seus muitos pensamentos diários: dez dias, dez textos.

Em tempos acelerados, onde somos engolidos pelas intermináveis tarefas do dia a dia, reservar um tempo para pensar sobre a nossa existência tem ares de ofensa à necessidade constante de produtividade à qual somos submetidos. Na conturbada dinâmica do cotidiano, não nos é permitido pausar, a menos que o inesperado resolva surpreender, não nos deixando outra opção a não ser pisar no freio. Então nos damos conta de que não controlamos nada, muito menos os imprevistos.

Se, no decorrer dos nossos caminhos, podemos nos deparar com boas surpresas, por vezes o que nos chega pode trazer algo que preferíamos não encarar, mas que não temos como fugir. Então, se nos permitirmos um mergulho interno, algo inusitado pode acontecer: ao acessarmos aqueles medos mais insistentes, oportunizamos a chance de iniciar um diálogo sincero com eles e, assim, podemos ensaiar os primeiros passos para nos libertar do seu controle. Foi a partir de um desses momentos da vida, quando os desafios nos transformam, que nasceu a ideia destes escritos.

Com a palavra, a autora: “Tem horas que a vida te obriga a desacelerar, puxa uma cadeira e convida para uma boa conversa”.