SINFONIA DO DESASTRE PARA TRATOR E ORQUESTRA

Depois da avalanche que dizima um terço da população de uma pequena vila nos alpes andinos, causada pela invasão do turismo desordenado, os sobreviventes adotam o silêncio como linguagem, passando a comunicar-se através de olhares e outras formas sutis.
Entre eles, há uma jovem mulher que é insistentemente aconselhada por psicólogas a escrever sobre a tragédia como forma de terapia, à qual ela inicialmente resiste, mas acaba por adotar. O texto que resulta é exatamente este romance, escrito na primeira pessoa.
Ela o redige como se estivesse revivendo o drama, utilizando-se dos verbos sempre no tempo presente, para revisitar cada cena que descreve como se acontecesse novamente.
Tendo acabado de concluir seu doutorado em Letras, a narradora planejava tornar-se professora de Teoria da Literatura, quando tem seus planos interrompidos pelo desastre. Por conta disso, durante a redação constantemente se reporta a alunos fictícios, intercalando seu relato com aulas que acontecem apenas no plano da imaginação, mesclando recortes de obras literárias com suas memórias recentes.
Além dos estudantes, também se sente acompanhada por um leitor imaginário, com quem dialoga molestada, pois o considera um olhar crítico ao que escreve.
Na realidade, porém, tanto a presença dos alunos fictícios como do leitor imaginário são artifícios que ela inventa em busca da solidariedade de terceiros, enquanto dedica-se ao relato na solidão do seu quarto.
Todavia o enredo sofre um desvio agudo através de um personagem real inesperado. Juntos vão incendiar o frio andino com paixão e sexo, no melhor e pior que isso representa, podendo transformar o silêncio pacífico em um elemento letal…
Esta distopia questiona a capacidade humana de ouvir e compreender seu semelhante, aventando a possibilidade de não existirem diálogos verdadeiros, só monólogos bilaterais. Ou que estejamos todos falando sozinhos, desde o primeiro homem que se pronuncia na Terra…
A capa do livro é uma pintura do artista visual Oscar Brasileiro, cujo uso foi por ele autorizado.