Síndrome de Cérbero

Meu nome é Leonard Cameron e o nome de meu pai, um homem incrível, maravilhoso, um amigo insuperável, era Robert Cameron. Ele foi morto com um tiro na cabeça, num piquenique em família, bem na frente de minha mãe, quando eu tinha só dez anos de idade.
É impossível prever o futuro senão especulando-o a partir de nossas escolhas presentes. Não é a mesma coisa com o passado. Os fatos vividos estão conosco, não nos abandonam, impregnados em nossa memória ou mesmo ocultos em nosso subconsciente, esperando apenas um gatilho qualquer para emergir.
Jamais fiquei especulando o passado, imaginando uma forma de burlá-lo, alterando-o. Mas vivia, contraditoriamente, mergulhado numa vida pretérita, vivenciando-a todos os dias da minha vida, como se pudesse mudar-lhe a forma pelo simples fato de evocar-lhe a lembrança.
O passado não me permitia mais que fugidias e dolorosas memórias.
Vivi como um zumbi, suportando cada dia na medida de minhas capacidades. A imagem vívida de meu pai levando um tiro na cabeça explodia diante dos meus olhos todas as vezes que os fechava.
Bem mais tarde, já adulto e formado em Física, fui trabalhar numa renomada Fundação de pesquisas científicas e descobri, para meu mais absoluto espanto, que havia um projeto em curso que possibilitaria as viagens no tempo.
Projeto que acabou por tornar-se realidade.
Era a grande chance de minha vida. A ideia de poder salvar meu amado pai de um assassinato jamais explicado nem convenientemente investigado ficava, súbito, executável. As coisas, porém, não saíram como eu queria. As experiências me arrastaram para um torvelinho de alucinações, realidades sobrepostas, verdades conflitantes que me atormentaram. Descobertas insuspeitas me lançaram num oceano de horror.
Assim como Cérbero, cão de Hades, permaneci às portas do Inferno, no limiar entre a razão e a loucura.