Siddhartha e a Jornada ao Oriente

Neste volume o leitor terá a oportunidade de entrar em contato com duas obras de Hermann Hesse.

No decorrer dos anos, diversas vezes as pessoas me perguntaram se Siddhartha de Hermann Hesse era um livro buddhista e se contava a história do Buddha. Ao ler diversos comentários sobre este livro, assustadoramente percebi que uma quantidade imensa de seus leitores de fato pensava que se tratasse de uma história romanceada da vida do Buddha, elogiando o livro e expressando grande felicidade por agora conhecerem mais sobre sua vida.

Então, para já de início esclarecer essa dúvida, não, esta não é a história do Buddha Siddhartha Gautama (ou na língua pāli, Siddhattha Gotama), que viveu por volta do século V antes de Cristo. Este nem mesmo é um livro buddhista. Ainda que toque em diversos temas relacionados aos ensinamentos do Buddha, seu protagonista aborda e adota, em diferentes ocasiões, ideias estranhas ao que o Buddha ensinou.

Nono romance escrito por Hermann Karl Hesse (1877-1962), Siddhartha foi escrito em alemão em 1922. Poeta e pintor, além de romancista, Hermann Hesse desde cedo teve uma ligação com a Índia. Seus avós maternos eram missionários protestantes e serviram na Índia. A mãe de Hermann, Marie Gundert, nasceu na Índia, em uma dessas missões. Seu pai, Johannes Hesse, nasceu na Estônia, e quatro anos antes de seu filho nascer, a família se mudou para Calw, uma cidade no sul da Alemanha, próxima da Floresta Negra. Hermann cresceu em meio à natureza, uma menino cheio de energia e paixão. Isso também o levou no decorrer dos anos a conflitos internos e externos. Aos dezoito anos já estudava livros teológicos, e de lá se tornou um leitor de Goethe, Lessing, Schiller e Nietzsche.

O que é a vida? O que deve ser feito para se viver intensamente? Quais seus perigos e armadilhas? O que é a morte? Quais suas consequências para quem fica? O que é o caminho espiritual e como aquilo que se acredita influencia nas decisões ao longo dos altos e baixos da existência? Hesse compôs um livro intenso, de emoções profundas, tocando temas fundamentais da existência. Qualquer leitor terá amplas oportunidades para refletir, concordar, discordar, vivenciar alternativas existenciais e se emocionar com a vida deste Siddhartha que viveu na Índia da imaginação de Hermann Hesse.

E precisamente dez anos após “Siddhartha”, o autor revisita o cenário oriental, mas agora com um peregrino ocidental empenhado em uma misteriosa viagem em grupo na direção do Oriente místico. “Jornada ao Oriente” não é uma viagem comum. O protagonista H.H., que alguns interpretam como sendo o próprio Hermann Hesse, é parte de um dos grupos que fazem parte de um projeto maior chamado de “A Liga”, e cuja missão, nebulosa no início, vai se tornando mais clara à medida que ele reconta suas experiências de viagem. Ou seria o contrário, que no início ele compreendia, ou assim pensava, quais eram os propósitos da Liga, mas que se tornam mais nebulosos à medida que busca recontá-los?