Sem você, eu ousarei sobreviver?

Eu me lembro daquele fatídico dia, como se fosse ontem, embora mais de dez anos tenham sido consumidos pelo tempo. Me lembro dos fantasmas da noite à espreita sussurrando suas melodias mórbidas e das mãos invisíveis do desespero apertando minha garganta. E lá estava Ela, quando enfim abri os olhos, ainda em minha cama no quarto que dividia com minha irmã e minha vó. Eu dormia em um beliche e me lembro de olhar para baixo, no canto atrás da porta e vê-la. E então, a Morte se levantou, e Ela era tão grande que ocupou o quarto inteiro e depois a casa, a rua, o bairro… ocupou cada canto da cidade. E onde quer que eu fosse, a Morte estava lá, ocupando tudo, cada olhar, cada esquina, cada pensamento. Ela então tocou meus lábios com suas mãos pútridas, Ela olhou em meus olhos com seu olhar vazio, Ela sussurrou silêncios e então… ficou. Quando enfim despertei do meu torpor e atendi a ligação, eu já sabia que seria eterno, que seria cruel… uma sentença irremediável declamada em sinfonias mudas.

Este é um livro que fala de amor, que fala de dor, de morte e, sobretudo, um livro que fala de saudade.