Remanescências

Ivelyse é uma artista plural.
Transita da pintura ao canto com grande desenvoltura e agora descobrimos que também passeia pela poesia como fosse irremediavelmente natural e simples.
Graças a ela descobrimos que “Em sonatas lamentosas, se fez ouvir a Luz.”
A artista faz reflexões profundas e surpreendentes, trabalhando as bordas da sensibilidade de forma autoral, livre. Mesmo “envolta na bruma nevoenta das indagações” e apesar “das perguntas sem resposta” ela segue adiante e partilha saberes.
Um banquinho debaixo da árvore nos convida a descansar na tela Casca da Jabuticabeira.
Mas se não lhe apetecer descanso, o leitor pode partir na irresistível Onda e aproveitar um Carnaval em Veneza, tão solto como o Vento, acreditando, de antemão, que o amor vai chegar. E decerto há de chegar, induzido pela arte de Ivelyse, cujas pinceladas despertam o apetite para o sonho, o belo e o transitório – a despeito de seus “anseios de permanência.”
“Jamais nos falam do mar” ela contrapõe em um verso, mas, como pintora, Ivelyse alcançou sua imensidão.
O movimento sedutor de Marinha nos acende o desejo de partir no barco de vela vermelha em direção a um destino incerto. Por que não?
Já não me lembro exatamente quando conheci minha conterrânea de Aimorés. Com certeza, não em nossa terra natal, já que algumas décadas nos separam. Mas isso não fez, não faz, a menor diferença. Foi através de suas filhas Lenora e Cristiana, amigas queridas, que dela me aproximei e tive o privilégio de saborear o tom peculiar, inesquecível, de sua voz.
Presença forte a se expressar com todos os dons que a vida lhe brindou, nunca se esquivou ao “chamado que vinha pela trilha/ entre os emaranhados” e “atendeu à flauta da tarde. “
Em REMANESCÊNCIAS podemos usufruir, pelo menos em parte, do precioso legado de uma artista intuitiva, sem amarras ou modismos.

Sorte nossa!

Branca Maria de Paula