Realidade Invisível

Existem isolamentos e confinamentos que duram há já décadas. Medos que não são novos e em vez de amplificados transformam-se numa estranha calma, proveniente de um mundo onde parece pertencer pela primeira vez, onde aquilo que sentia e a marginalizava é agora partilhado pelas massas. Uma solidão profunda cria há muito o limiar entre a sanidade e a loucura ocultada aos demais.
Aquelas circunstâncias não lhe traziam nada de novo e não sentia nenhuma vontade particular de regressar ao mundo de outrora. Este era o mundo para o qual se tinha estado a preparar, de forma involuntária, durante toda a sua vida. As quatro paredes da mente e as da casa onde mora desfazem-se durante o sono para dar lugar a uma liberdade que nunca poderá experienciar nesta realidade.
O poder da imaginação vem proteger da loucura que advém de mais de duas décadas e meia de uma solidão causada por barreiras invisíveis e inderrubáveis.
A inevitabilidade da morte atormenta-a como se de um buraco negro no centro da mente se tratasse, arrastando-a para uma escuridão vazia que quase chega a levar ao desmaio mas ao qual resiste graças ao terror que a perda de consciência lhe traz.
Na nova guerra ao invés de sentir tristeza e empatia para com os outros vêm antes sentir que não é a única aprisionada e sente uma pontada de contentamento com isso, apesar de quando o inimigo for vencido as suas circunstâncias não irão mudar. Permanecerá entre realidades.