Portais de Crono: Os viajantes do tempo

Goran, um cientista que deseja compreender a razão do desaparecimento de seu mundo e de sua raça, contata a mente de Hugo, um garoto do século XXI, e sugere uma troca de corpos. Pensando se tratar de um sonho recorrente, Hugo aceita a proposta, louco para se livrar das encrencas na escola e da difícil relação com os pais.

São Paulo, meados do século XXI.
Com muitos quilos acima dos cem, espinhas pipocando na pele avermelhada do rosto e com o nome na lista negra dos alunos-problema em sua escola, Hugo andava cansado de seu corpo, de sua cara, da cara dos outros e da mesmice da vidinha sem graça que levava. Diferente mesmo, só aquele sonho que voltava todas as noites, com a voz de um tal “Goran” chamando: “Hugo, Hugo…”
Se o sonho fosse real, trocar de corpo com outro cara por uns tempos podia ser mesmo uma boa. Ficaria livre do colégio, das crises histéricas da mãe e das broncas do pai. Naquela noite, desanimado com a chatice de sua vida, pensou que, se sonhasse outra vez, responderia: “YES, Goran! Eu aceito a troca”.

Tera, dez mil anos antes da Era Cristã.
Ao abrir os olhos, Hugo se descobriu em um lugar silencioso, sinistro, cheio de sombras que pareciam brigar com a chama fraquinha de uma lamparina. A cabeça doía um pouco. Ao se virar na cama, viu a mão escura, ossuda, de dedões compridos, que saiu do meio das cobertas. Gritou um “ahhh” e ouviu um berro meio rouco, bem diferente dos seus.
O braço magro de um velho terminava naquela mão de zumbi, seca e cheia de veias. Sem coragem de olhar o resto daquele corpo que não era o seu, Hugo fechou os olhos com força, para ver se acordava do pesadelo. Foi nessa hora que ele se lembrou da “alucinação auditiva”, do sonho, e do convite de Goran. Uma troca de corpos… Passou as mãos no rosto e encontrou uma barba curta e áspera. A testa era alta, o nariz fino com um osso saliente no meio, e a boca parecia uma linha, boca de velho, sem carne nos lábios.

São Paulo, meados do século XXI.
Quando Goran tentou se virar na cama, percebeu que teria de aprender a lidar com o monte de banhas que usaria como corpo nos próximos dias. Ergueu-se com dificuldade e examinou seu hospedeiro. Um homem jovem, entre quinze e dezessete anos. Os músculos flácidos sugeriam um organismo sedentário, desacostumado a exercícios.
Caminhou até a janela do quarto, feita de grandes placas de vidro encaixadas em esquadrias de metal leve. Ao se aproximar do peitoril, viu que estava a uns trinta metros do solo. As construções, muito próximas umas das outras, eram altas como as Torres dos Guardiões. Lá embaixo, veículos barulhentos se moviam lentamente em uma rua estreita. Goran estava, realmente, impressionado. Em sua última viagem, duzentos anos antes, não havia construções tão altas, nem ruas cheias de veículos como aqueles.

Ao ocupar o corpo de Hugo, Goran terá que lidar com dificuldades inesperadas: a destruição de seu laboratório na ilha de Tera, após o ataque dos mecahíbridos enviados pelos fantonianos; a pouca idade e a falta de recursos de Hugo, um empecilho para a construção de um novo laboratório no século XXI e a vigilância do pai do rapaz, que se preocupava com a mudança de comportamento do filho.
Vivendo no corpo de Goran, Hugo conhecerá as responsabilidades e os riscos que acompanham o poder. Experimentará, pela primeira vez, ao lado de Lore, noiva de Goran, o sentimento do amor. Seu maior desafio, contudo, se dará quando, diante de uma crise interplanetária, deverá decidir entre salvar o planeta ou abandoná-lo aos fantonianos, que planejam destruí-lo. Em seu percurso, entre dois corpos e dois mundos, o jovem Hugo deverá amadurecer, para se tornar um homem digno do amor de Lore.