Plantão de Ano Novo

Em Plantão de Ano Novo, duas mulheres que aprenderam a sobreviver no ritmo duro de um hospital pediátrico se encontram no intervalo improvável entre o fim e o começo. Angélica é enfermeira-chefe, introspectiva, diagnosticada tardiamente com autismo, acostumada a organizar o mundo em silêncio para não se perder nele. Raquel é técnica de enfermagem, expansiva, barulhenta, feita de riso alto, música improvisada e afeto em excesso. Trabalham juntas há anos, se observam demais, se dizem pouco, se desejam no espaço estreito entre o profissional e o pessoal. Quando Angélica descobre uma traição e vê ruir o plano de um pedido de casamento, aceita o plantão da noite de 31 de dezembro como quem tenta fingir que não está abalada, mas quer manter-se longe dos pensamentos. Raquel, por um acaso chato com uma colega, também perde sua viagem de fim de ano e acaba no mesmo turno. O hospital quase vazio, o silêncio raro, as crianças que ficaram, tudo conspira para que aquilo que sempre foi contido venha à tona. Entre crises sensoriais, cuidados discretos, ironias mal colocadas, silêncios cheios de significado e um beijo roubado na virada do ano, as duas constroem uma aproximação que não promete eternidade, mas presença. Plantão de Ano Novo é um conto sáfico sobre recomeços possíveis, sobre amar sem pressa, sobre escolher ficar quando o mundo inteiro parece ir embora. Uma história íntima, humana e delicada, que entende o amor como gesto cotidiano, não como espetáculo.