PEDAGOGIA TERAPÊUTICA: Diálogos e estudos Luso–Brasileiros sobre João dos Santos

“A ruptura epistemológica que João dos Santos fez no campo da Saúde Mental Infantil radicou na ideia de que a luta em prol da aventura da evolução saudável da criança só será possível, através de um novo paradigma científico, que inter-relacione os saberes e as práticas que a tornam possível, oriundos da medicina, psicologia e pedagogia, o que lhe abriu caminho para a fundação da sua Pedagogia Terapêutica. Esta aproximação interdisciplinar favoreceu o desenho de uma abordagem nova, com vista a recuperar na criança falhas precoces do seu desenvolvimento, o que pressupõe a sociedade no seu conjunto imbuída da preocupação com a sorte da criança. Trata-se de uma abordagem científica e cultural, aprofundada pela psicanálise, que pensa a evolução do ser humano à luz das suas mais arcaicas raízes filogenéticas e etológicas.”

Maria Eugénia Carvalho e Branco

“Seja qual for a apreciação que se faça da obra de João dos Santos, vendo-a sob o prisma, quer de um trabalho científico, quer da atuação de um médico psiquiatra, neurologista e psicanalista, não se pode deixar de considerá-lo um pensador deveras importante, na história da Saúde Mental Infantil de Portugal.

Um dos critérios mais seguros de tal juízo residiria na constatação de sua liderança, colocada em várias iniciativas de organização dessa área de estudos. No movimento da Escola Moderna, na Liga Portuguesa de Deficientes Motores, na Associação de Educação pela Arte, na Liga Portuguesa de Higiene Mental, na fundação do Centro Helen Keller, dentre outras.

Tais iniciativas foram tantas, de tamanha expressão, que sobreviveram ao tempo, razão pela qual nos parece ser justo dizer que, depois delas, já ninguém em Portugal pensa a infância e a saúde mental como se fazia antes.

Nesse sentido, a ação dele representou uma ruptura na concepção de saúde mental antes vigente, ao oferecer uma posição de vanguarda e ao defender um avanço para a Psicologia e a Educação, quando propôs uma teoria do indivíduo e uma pedagogia que abrangem as dimensões cognitiva e afetiva, aproximando-as e rompendo com o danoso afastamento a que estavam condenadas as duas mais importantes esferas da vida mental infantil e humana.

Por tudo isso, estimular diálogos luso-brasileiros sobre a contribuição de João dos Santos pode favorecer a sua divulgação e circulação em espaços acadêmicos mais amplos e interessados no contato mais estreito com a sua Pedagogia Terapêutica, justo quando a relação família e escola apresenta sinais de esgarçamento, o que suscita renovadas iniciativas de investigação.”

Patrícia Helena Carvalho Holanda