PEDAGOGIA DA LINGUAGEM SIGNIFICANTE: Saberes de Jacques Lacan

Prefácio
Aprender e ensinar na linguagem significante. Este é o tema geral do livro de Paulo Arthur Buchvitz. Uma nova maneira de lidar com a formação de educadores. Uma outra forma de lidar com a educação.
A busca de uma transmissão viva. De uma transmissão que ocasione conseqüências no aluno, fazendo com que ele se torne implicado naquilo que irá realizar. Uma transmissão que leve em consideração a transferência de trabalho.
No ensino tradicional, revela Buchvitz, o sujeito fica preso à palavra e ao gesto do Outro. Podendo emergir uma adesão de tal forma estruturada, que acabe levando o aluno a se colar às palavras e gestos daquele que ensina. O aluno como objeto e não sujeito. O aluno como cópia e repetição do professor.
Como levar o aluno a descobrir a importância das suas palavras e atos? Como levar o aluno a se implicar naquilo que está fazendo? Esta é uma postura ética que preocupa Buchvitz, fazendo com que ele se volte para repensar a questão da transmissão dada nos centros de formação de professores.
A partir daí, ele começa a repensar cada uma das teorias pedagógicas e os impasses que elas desencadeiam no processo de formação dos novos professores. As principais teorias pedagógicas são passadas a limpo.
Os lugares do professor e do aluno são analisados. São vistos em relação a como estruturam cada um dos processos de transmissão. Da abordagem tradicional à Psicanálise lacaniana.
Buchvitz investiga de que maneira estas abordagens podem propiciar ou não um novo olhar aos educadores e aos alunos. Encontra uma resposta mais profunda quando se vê frente à Psicanálise de Orientação Lacaniana.
Encontra ali uma nova contribuição. Algo que sai da mera cadeia das representações, significados e significações padronizadas. Vê-se frente ao significante e ao que escapa.
Constata aquilo que Lacan nomeou a fuga do sentido. O sentido, as significações escapam. Não há uma hermenêutica capaz de dar conta deste processo. Não há a última palavra. Sempre é possível acrescentar mais uma e mais uma.
Estamos frente ao incomensurável. Estamos frente ao real.
Embora o homem teorize sobre as suas ações há sempre algo que escapa, algo que ele não consegue chegar, algo que ele não consegue dizer.
Lacan vai dizer que a verdade sempre aparece como uma meia verdade. Nós só conseguimos dizê-la ater certo ponto.
Freud denominou este processo de complexo de castração. Nós não temos todas as respostas, nós não possuímos todos os saberes. Há sempre algo que escapa. Algo que retorna da próxima vez nos instigando a continuar no caminho.
O incomensurável e o indizível. O real.
Para chegar até lá é preciso superar a crença que aquilo que nós nomeamos como sendo o real é o real. É preciso perceber que estamos sempre lidando com um real de uma outra ordem. Vemos-nos sempre ao imprevisto. Frente ao que continuamente se transforma.
Qual a importância de se trabalhar dentro da vertente do real? Como isto afeta o educador e o aluno no processo de formação? Os professores também não sabem qual seria o melhor caminho para os seus alunos.
É preciso dar a palavra a eles, para que digam onde estão e que rumo eles querem seguir. Onde o aluno não se cole à palavra daquele que transmite e nem ao texto, sem conseguir ser.
É preciso dar um passo além. Estabelecer um processo de formação em que o aluno possa criar e recriar novas formas de engajamento em relação ao seu trabalho. O estabelecimento de uma Utopia? Não.
Paulo Arthur acreditou que isso fosse possível. O que mudou?
Revelou-se que o saber não está apenas do lado do professor, do lado do texto. O saber está do lado do aluno, através da construção que ele irá estabelecer, ao longo do seu processo de formação.
Este livro traz a reflexão de uma vida. Uma vida de dedicação à causa educacional, do seu trabalho docente, do seu trabalho como investigador. Uma vida que agora chama também a sua, leitor… Leny Magalhães Mrech – Livre Docente da Faculdade de Educação da USP.