O livro de contos Passionais tem como tema paixões exacerbadas sobre pessoas – caso de Matrimônios-, ou ideias – caso de A teoria viva-, sobre as quais os narradores discorrem com um interlocutor oculto, que não se expressa diretamente, mas por meio de sinais indicados pelo próprio narrador, adotando um modelo narrativo que busca como precursor o romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, no qual o protagonista Riobaldo conta sua história para um ouvinte mudo, método considerado, por isso, um monólogo. Diversamente, o modelo narrativo adotado em Passionais consiste em ser um diálogo implícito, pois, apesar de a interlocução perpassar todo o contexto, o diálogo real não se efetiva, já que todas as falas são expressas pelo narrador, que não se preocupa em esperar a resposta do seu interlocutor, a qualquer uma das suas indagações, servindo estas somente para ratificar suas próprias crenças discursivas.
É como se todos tivessem a necessidade fundamental de ter à sua disposição um interlocutor platônico, ou seja: um que se limite a sempre concordar, reverente, com as ideias que escuta, sem jamais questioná-las, ainda quando devessem ser questionadas.
Contudo, há uma agravante: Platão admitia que o poder deveria ser exercido por um sábio, notadamente um filósofo, discutindo sua teoria por meio de diálogos diretos com seus discípulos, que se faziam ouvir articulando a própria voz, ainda quando absolutamente concordes com o pensamento do mestre.
Na atualidade, vivemos em um mundo platônico invertido: ao invés dos sábios conduzirem os ignorantes, os ignorantes conduzem os sábios.
E as redes sociais radicalizam essa inversão com uma fúria discursiva jamais vista!
Como um jagunço virtual, pouco receptivo à interlocução, o usuário quer falar, mas sem nada escutar, exceto a concordância com os seus interesses, mesmo nocivos ao mundo real.
Assim, sem abrir espaço para ouvir a fala do outro, o falante atual, mais especificamente o virtual, deseja apenas dialogar com ocultos ouvintes mudos, como o jagunço de Grande sertão: veredas.
Em síntese, o complexo de Riobaldo tomou conta do Brasil (e talvez do mundo). Hodiernamente, manifesta-se quando alguém pouco instruído cala, coíbe, despreza ou domina a voz do instruído.
Pois bem, calar, coibir, desprezar ou dominar a voz do outro é sempre uma forma de autoritarismo, por mais que pareça eivada de bons sentimentos e o outro lhe seja receptivo.
Eis, portanto, a essência do diálogo implícito: destacar o dono da palavra!
Nos contos, tal destaque surge desde a palavra “olha”, que os inicia, introduzindo o leitor no contexto de uma conversa que já se desenrola antes mesmo do seu contato com a leitura, confundindo-o, assim, com o próprio ouvinte.
É como se todos tivessem a necessidade fundamental de ter à sua disposição um interlocutor platônico, ou seja: um que se limite a sempre concordar, reverente, com as ideias que escuta, sem jamais questioná-las, ainda quando devessem ser questionadas.
Contudo, há uma agravante: Platão admitia que o poder deveria ser exercido por um sábio, notadamente um filósofo, discutindo sua teoria por meio de diálogos diretos com seus discípulos, que se faziam ouvir articulando a própria voz, ainda quando absolutamente concordes com o pensamento do mestre.
Na atualidade, vivemos em um mundo platônico invertido: ao invés dos sábios conduzirem os ignorantes, os ignorantes conduzem os sábios.
E as redes sociais radicalizam essa inversão com uma fúria discursiva jamais vista!
Como um jagunço virtual, pouco receptivo à interlocução, o usuário quer falar, mas sem nada escutar, exceto a concordância com os seus interesses, mesmo nocivos ao mundo real.
Assim, sem abrir espaço para ouvir a fala do outro, o falante atual, mais especificamente o virtual, deseja apenas dialogar com ocultos ouvintes mudos, como o jagunço de Grande sertão: veredas.
Em síntese, o complexo de Riobaldo tomou conta do Brasil (e talvez do mundo). Hodiernamente, manifesta-se quando alguém pouco instruído cala, coíbe, despreza ou domina a voz do instruído.
Pois bem, calar, coibir, desprezar ou dominar a voz do outro é sempre uma forma de autoritarismo, por mais que pareça eivada de bons sentimentos e o outro lhe seja receptivo.
Eis, portanto, a essência do diálogo implícito: destacar o dono da palavra!
Nos contos, tal destaque surge desde a palavra “olha”, que os inicia, introduzindo o leitor no contexto de uma conversa que já se desenrola antes mesmo do seu contato com a leitura, confundindo-o, assim, com o próprio ouvinte.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): RONALDO CARLOS
- ASIN: B09F1DH578
- Editora: Ronaldo Carlos
- Idioma: Português
- Tamanho: 2522 KB
- Nº de Páginas: 577
- Categoria: Contos
Amostra Grátis do Livro
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