Paradoxos de Vidas Marginais

Por João Negrão
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A escrita do corpo

José Castello

Arrisco-me a escrever sobre os relatos de João Negrão, de quem sou amigo desde que, há quase três décadas, mudei-me para Curitiba. Foi uma decisão difícil – e por isso a exponho. Primeiro pensei: “Não, não devo escrever, pois o afeto distorcerá minha leitura”. Logo depois pensei o contrário: “Devo escrever sim. As leituras frias levam ao previsível. Só o afeto subverte e alarga o que você lê”.
E aqui estou eu, com o corpo agitado, escrevendo sobre os contos de João Negrão. Um primeiro pensamento não me abandona: João escreveu seus contos com o corpo. Corrijo-me de novo: que escritor, se escreve para valer, não coloca, a cada palavra, o corpo em questão? Não só o corpo anatômico, mas tudo aquilo que a ele se adere: memórias, feridas, atordoamentos, traumas. E sobretudo: os sonhos. É do corpo sempre que se trata. E João não foge, ao contrário, enfrenta.
Calcado nessas experiências diretas e ardentes que o corpo experimenta, João avança em suas histórias. Que são, e não são, lembranças. Que são, e não são, verdadeiras. Mas que certamente, sem nenhuma dúvida, são sonhos. Provêm dos sonhos. São matéria de sonho. A realidade, com seus dentes e sua brutalidade, os atravessa. No sexo intenso, um corpo velho. Na paixão, uma ponta do ridículo. No erotismo, a sombra da morte. Mas o sonho persiste. Também o corpo é um sonho ao qual nos agarramos para permanecer vivos.
É assim o desejo: ele nos leva – via de mão dupla – a duas direções antagônicas. De alguma forma, ele sempre se realiza. Ao mesmo tempo, ao se realizar, carrega em si o seu contrário – a decepção, a desilusão, o descarte, o vazio. Carrega a morte. Por isso é tão perigoso desejar: o desejo inclui seu desmentido. E dói. Dói muito porque é no corpo, exatamente no corpo, que ele se realiza. A própria alma o que é, senão um produto de nossas ondas cerebrais?
Há um fundo sagrado na escrita de João: sacerdotes, seminaristas, colégios religiosos, a sombra contínua do pecado. Ao mexer com o corpo, tocamos inevitavelmente o sagrado. É no corpo que o sagrado se realiza, mas também se destrói. João Negrão fala em “paradoxos”. A palavra é exata. O paradoxo carrega em si a contradição, o contrassenso e a insensatez. Elementos cruciais do humano. Elementos humanos que, ao se manifestar no corpo, sopram vida.
João escreve debruçado sobre o corpo e suas armadilhas. A história do Brasil, bem ao fundo, às vezes aparece. Mas o principal se realiza na esfera do pessoal. Em cada relato, é o sujeito que está em causa. Com suas miudezas, suas decepções, seus desejos loucos, seus limites espartanos, sua impotência. Seus paradoxos. João escreve para desnudar o que somos. E, desde o primeiro vagido do nascimento, até o último suspiro no leito de morte, é no corpo que tudo se passa. É ali que a palavra tem a chance de se apropriar da vida.

Características do eBook

Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:

  • Autor(a): João Negrão
  • ASIN: B09Q5KNGRR
  • Idioma: Português
  • Tamanho: 3057 KB
  • Nº de Páginas: 109
  • Categoria: Romance

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