OUTROS BRASIS: Coletânea de Histórias Alternativas

Introdução da edição original (2000):
Quando estudamos a História do Brasil Colonial, muitos de nós se sentem tentados a imaginar o que teria acontecido a nosso país caso a colonização holandesa tivesse vingado no Nordeste do século XVII. Teríamos duas nações soberanas ocupando o território brasileiro, uma de fala portuguesa, algo semelhante ao “nosso” Brasil, e a outra articulando o holandês? E esse Brasil Holandês? Teria se tornado uma grande potência econômica e, quem sabe, militar, ou apenas um grande Suriname?

E se o Paraguai de Solano López houvesse vencido a Guerra contra a Tríplice Aliança? A Gran República del Paraguay sonhada pelo tirano se tornaria uma realidade? Ou, mais cedo ou mais tarde, o Império do Brasil conquistaria sua desforra?

E se Lula tivesse vencido a eleição presidencial de 1989? Teríamos um Brasil melhor? Em caso afirmativo, por quanto tempo?

A maioria dos estudiosos da História do Brasil, leigos e profissionais, vez ou outra não resistem à tentação inconfessável de imaginar o que teria acontecido se um determinado evento histórico fundamental houvesse ocorrido de maneira diversa da estudada nos livros escolares. Embora heterodoxa do ponto de vista acadêmico, a especulação sobre como seriam esses “Brasis Alternativos” hoje em dia é um tema extremamente instigante.

Podemos imaginar todo um processo especulativo desse tipo como uma bola de neve rolando do alto de um morro, crescendo e acelerando à medida que desce afastando-se do cume. Talvez uma analogia ainda melhor fosse a de uma pedra arremessada na superfície plácida de um lago: a pedra afunda e à medida que o tempo passa ondas circulares cada vez mais amplas se formam, tendo sempre como centro o ponto onde a pedra atingiu a superfície do lago.

De forma análoga, quando introduzimos no passado brasileiro um evento que sabemos divergir da história que conhecemos e extrapolamos sobre as consequências históricas prováveis deste evento, estamos criando uma linha histórica alternativa. Ao evento que produz a mudança, da linha histórica que conhecemos para a linha alternativa, chamamos ponto de divergência.

Essas histórias alternativas existem desde a Antiguidade. Pelo menos desde Ab Urbe Condita Libri , de Tito Lívio. Porém, do ponto de vista ficcional, a tradição das histórias alternativas existe há bem menos tempo. O primeiro exemplar de que se tem notícia foi um romance escrito no segundo quartel do século XIX e que se passa numa Europa onde Napoleão teria vencido a Batalha de Waterloo e dominado a totalidade do Velho Continente.

Com o tempo, o gênero das histórias alternativas floresceu tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, dando origem a uma série de temáticas e subtemáticas prediletas, como a vitória nazista na Segunda Guerra, o Estado Romano Mundial, a colonização da América pelos vikings, a invasão da Inglaterra após a vitória da Armada de Filipe II em 1588, ou ainda, aquela que é a verdadeira preferência nacional dos autores norte-americanos, a vitória confederada na Guerra de Secessão, propiciando a criação dos Estados Confederados da América.

No Brasil ainda não possuímos uma tradição de histórias alternativas.

Contudo, talvez sejamos capazes de tecer especulações tão engenhosas e convincentes quanto as dos autores estrangeiros. Talvez seja possível transformar essas especulações em ficção, histórias com tempero nacional, adaptadas, portanto, ao paladar exigente do leitor brasileiro. Essa experiência foi tentada nas histórias a seguir. Espero que apreciem o sabor dos cinco pratos típicos que estão prestes a degustar.