Outra Praia

A Vontade de Conhecer o Mundo

Sempre quis crescer rápido para ter boas lembranças. Desfilar a maioridade por aí, ser dona de mim, recordar a infância e ter saudades dela. Trazer à memória acontecimentos típicos dos 15, 16 anos… sorrir ao lembrar do primeiro beijo, da rebeldia adolescente. Depois, fazer parte das histórias dos livros, presenciar fatos marcantes para a vida do país, das pessoas. Comentar minhas vivências em jantares com amigos, regados a vinho e comidas finas (assim como os meus pais faziam).

Aliás, sempre os observava nessas reuniões: cigarros, licores e risos. Queria participar também, mas a maioridade ainda não tinha chegado, não era crescida o suficiente para fazer parte. Esperava então, do lado de fora da porta e espiando por entre as frestas, a movimentação das pessoas que eu admirava.

Um dia, privilegiada pela velocidade incessante da vida, cresci. Contava 21 anos. Finalmente independente, segura, pronta para participar daquilo tudo. Bem, agora não queria mais aquele futuro de conversas e risos. Queria conversar sobre a vida sim, mas longe de tudo o que eu já conhecia. Explorar novos caminhos, descobrir novos amigos, caminhar por esse mundo grande e desconhecido.

Quando eu era pequena, acreditava que ser grande e adulta era o suficiente para eu ser feliz. Mas quando a maioridade chegou, percebi que a vontade de conhecer o mundo me enfeitiçava cada dia mais. Esse apetite se tornou tão insistente e necessário que a minha partida foi inevitável.

Numa noite quente e de brisa fresca decidi para onde ir. Através da janela do meu quarto as estrelas apontavam para um único caminho: a praia.