Os sermões despudorados de Pedro Ejavier: Contos eróticos

Meu amigo Pedro Ejavier, quando solicitado, devassava sem inibições sua vida íntima narrando histórias eróticas em saraus. Tinham sido vivenciadas por ele mesmo e contadas com tal naturalidade que, apesar de eróticas, pareciam sermões, como comentou um dia um amigo. A resposta de Pedro: “Sou solteiro, libertino, aventureiro e nômade e os casos que conto mostram como eu sou. Melhor então chamá-los de sermões despudorados.”
Um dia Pedro confessou-me que desejava transformar suas melhores histórias em livro, mas a falta de tempo livre tornava a tarefa impossível. Sua vida incomum sempre atiçou minha imaginação e decidi ajudá-lo. Sugeri que gravássemos seus casos, visto que era notório seu prazer em contá-los. Com o material em mãos, eu faria a transcrição. Tudo do jeito que nós dois gostávamos: informalmente, sem hora marcada, sem data para finalizar.
No meio de nossa labuta, Pedro recebeu a ingrata notícia de que um câncer tomara conta de seu organismo. Depois do choque inicial, decidiu aumentar a frequência das gravações, deu-me carta branca para completar as histórias e sugeriu que o narrador ficasse na primeira pessoa. Meses depois, a doença levou sua vida.
Herdei dele as gravações, um tesouro, mas fazia falta sua presença para elucidar as muitas dúvidas que ficaram e as muitas que surgiam no decorrer da transcrição. Consultei amigos e amigas em comum, incluindo Edu, seu parceiro de infância, e Joá, a mulher que ele sempre amou, sem dúvida as duas mais fortes presenças constantes em sua vida variada. Apesar de nossa longa amizade, descobri outro Pedro depois desses encontros. Relendo os casos isolados e independentes uns dos outros, percebi que eles, em seu conjunto, desvendavam uma vida de luta por uma sexualidade sustentada na liberdade, no respeito às diferenças e às minorias, contra o machismo, a homofobia, o racismo.
Com essa narrativa, tento manter viva a potência despudorada e libertária de Pedro Ejavier.

P. Campanario