Os Pobres: Precedido de uma Carta–Prefacio de Guerra Junqueiro

Por Raul Germano Brandão
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Ter os mesmos direitos que as arvores e os bichos á immortalidade, humilda-me, e fazendo-me humilde torno-me melhor, mais irmão do que é pequeno e desgraçado. Só as creaturas que soffrem é que são dignas de viver, e na verdade são as unicas que vivem. No tempo infinito e no espaço limitado as moleculas agregam-se, desagregam-se… Só chimica, só a chimica existe… As moleculas, que têem em si a força vital, são hoje arvore, amanhã animal, pedra, homem. Conforme o quê? o que é que as modela?… Eis-me: eu fui e continuarei a ser n’este oceano tragico, o que o acaso determinar, conforme as minhas moleculas, amanhã desagregadas, se unirem a outras mais tarde… Tenho vivido até aqui–continuarei assim pela eternidade. Quando pois me chegar a vez de ser homem, hei-de viver: quero viver da minha propria vida: quero que fale dentro em mim o universo que eu já fui–a pedra que eu já fui–a arvore que eu já fui–o bicho humilde que eu já fui… A tua opinião?… De que me serve? E é ella tua, sentel-a bem tua, ou é aprendida, falsa, vinda de outros homens que me querem esmagar?… Qual deve ser o meu fim? Deixar falar todo o universo que compõe o meu sêr, deixal-o prégar com a sua voz rouca–com a sua propria voz e não com a tua. Se eu trago odio, deixae-me ser o Odio; se eu trago riso, deixae-me ser o Riso. O momento é unico, não vale perdel-o. Porque acaso, porque furia insana, depois de que rebeldias, de que horas ou seculos de aguilhão, de desespero e raiva, estas moleculas, perdidas n’um oceano maior que o atlantico, tornarão a ser, se chegarão a reunir para terem a consciencia do Universo? E agora vens tu, homem, e queres emmudecel-as com as tuas leis, as tuas theorias, os teus sonhos… O momento é unico: vae perder-se ámanhã. Seculos de canseira para terem n’um minuto a consciencia do universo; seculos de sonho tremeluzindo no fundo da obscuridade, para não virem afinal á luz, seculos de amargura, de esforços, de tentativas abortadas–para não chegares afinal a viver. É como ir a uma arvore e arrancar-lhe toda a flor… Mas olha: tudo é feliz em torno de ti, porque tudo cumpre o seu destino. Cumpre tu o teu. Tudo é harmonico, porque vive da verdadeira vida: as plantas crescem sem que as outras lhes imponham regras, os animaes, a natureza inteira, não têem remorsos nem duvidas. Nem tu as terás, se viveres da tua verdadeira vida e não de outra. A tua educação deve consistir n’isto: em fazer falar o universo que trazes comtigo, com a sua voz. Arreda, mata, calca tudo o que te contrariar n’isto. Sabes acaso d’aqui a quantos seculos, tornarás a ter consciencia? E que forças perdidas, que luctas não vão ser necessarias?… Quantos gritos!… Gosa tudo: a desgraça, a fome, a terra, o sol, o riso, porque nunca voltarás a sentir senão n’uma infinidade de seculos. Impregna-te de vida, do teu largo quinhão de vida, para que ás portas do Nada possas dizer:–Vivi

Características do eBook

Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:

  • Autor(a): Raul Germano Brandão
  • ASIN: B00AR1A86I
  • Editora: Library of Alexandria
  • Idioma: Português
  • Tamanho: 574 KB
  • Nº de Páginas: 238
  • Categoria: História

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