Os Irmãos Krapiscato

Eu devo ser honesto com você, eu sou um escritor inexperiente. Os Irmãos Krapiscato é o meu primeiro livro, foi a primeira vez que eu tentei organizar as muitas páginas, contos e anedotas perdidas em infinitos pedaços de papel e anotações de celular. Mas, apesar da minha vasta inexperIência eu gostaria de convencê-lo a ler o meu livro, não a comprá-lo, mas a lê-lo. Quero deixar clara a diferença porque dinheiro é fugaz, leitores não. Leitores são criaturas resilientes, capazes de aturar longas horas de dores no pescoço, nas costas e nas vistas, horas de tédio e monotonia que poderiam ser facilmente trocadas pelas cores brilhantes da TV, dos computadores e dos celulares. Os leitores superam a tudo e todos atrás de uma recompensa mágica no final de cada obra, aquela sensação de plenitude que nenhum outro entretenimento pode dar. Livros são sublimes, recompensam todos os esforços, todas as tentações renegadas se tornam irrisórias ao final de um bom livro.
Seres assim, caro leitor, tão devotos à sua arte como você, devem ser apreciados e amados por nós escritores, afinal vocês buscam de forma inconsequente aquilo que nós queremos dar loucamente. Vocês querem elevar as suas almas a um tal estado de prazer, angústia e felicidade que só com um sacrifício muito grande vocês conseguiriam, só com o sacrifício da nossa própria alma é possível. É o que o bom escritor deve fazer, dar a sua alma pela obra.
E é por isso, caro leitor, que apesar da minha inexperiência uma coisa eu fiz em Os Irmãos Krapiscato e em qualquer outra coisa que escrevi, eu fatiei a minha essência em muitos pedaços e dei cada um a um personagem, todos são minhas crias e eu ao mesmo tempo, Kleber que sente a falta do pai e busca compensar isso todos os dias, Jade com sua maldade e seu senso de família, Cícero com sua inocência e coragem, Cristina com seu egoísmo e abnegação, cada um deles é um pedaço de mim e as suas histórias entrelaçadas como foram te levarão a um estado de torpor e susto novo, até mesmo para leitores experientes.
Você pensou correto ao supor que Os Irmãos Krapiscato conversa com Os Irmãos Karamázov de Dostoiévski, mas também conversa com Freud e com a mitologia grega. Richsolia com sua gente torpe e sua água podre conversa com Macondo e muitos outros trechos acrescentam passagens e diálogos intertextuais buscando enriquecer a experiência de leitura. Como um alquimista eu roubei a alma de outros escritores para misturar à minha e ver no que dá.
O resultado é esse, um livro início de uma série, uma série desorganizada, sem número, sem começo, uma série para mastigar meus medos, meus desejos, minhas vontades e mascará-los e expô-los entre personagens e passagens. Um livro que conta a história dos Krapiscato, uma família de ricos richsolienses, arrogantes por excelência, maldosos, perdidos, desesperados e maltratados pelo mundo, não muito diferentes de mim ou de ti.
Boa leitura.