Onde Vivem os Anjos: Livro 1: A Cidade dos Ratos

Entre Caminho à mundo somos todos Margot. Margot pertence ao mundo e ao mundo está sendo entregue através dessa obra.
A personagem apaixona-se por uma Cidade que coloca em pedaços tudo o que enganosamente sempre fora levada a acreditar ser mundo ou vida, nesses momentos em que Cidade e Margot são atraídas uma a outra começam a descobrir que sempre carregaram dentro de si, em suas próprias almas, o maravilhoso recurso de sentir, e que seu corpo nunca precisou de permissão alguma para demonstrar seus gestos. De maneira enigmática, nos momentos de núpcias com a Cidade, sua alma viria a descobrir que seria capaz de desejar, coisa que nem mesmo sabia do que se tratava até então, o desejo. Na medida que se misturasse com a misteriosa Cidade dos Ratos e abandonasse o mausoléu que chamara de sua casa, tudo se intensificaria, transformando pele áspera, alma pálida e boca que nunca emitira sons em pura intensidade e desejos inomináveis. No encontro entre as duas, descobrem que as pessoas que permaneciam sobre o infinito mundo eram as mesmas que existiam aprisionadas dentro de um Caminho, que se mantinha apertado, repleto de fuligem e suas pesadas leis, controlando-os, enquanto os vivos desprezavam e se afastam de si mesmos na tentativa de agradar o aprisionador, o Caminho acinzentado, que enganosamente foram levados a imaginar ser o infinito mundo.
Se envolver na leitura do texto trata-se de descobrir que a vida talvez nunca tenha existido. O livro é obra e é vida. Demonstra com seus afetos a transbordar de suas páginas a necessidade de reinventar ao inundar sua própria existência, entregando-se a um horizonte caótico de vida, se desvencilhando do “Homem” que escraviza o corpo para devolver o corpo ao anjo a qual pertence.