Onde está Eneida ?: Conto Coleção Identidade – Vol.2

“Ao chegar do trabalho naquela quarta-feira do ventoso maio de 1951, Dorval Fagundes Neto encontrou o apartamento em desordem. Chamou pela esposa e não obteve resposta. Os livros da prateleira da sala encobriam o tapete em um mosaico colorido e assustador. Chamou de novo. Eneida não tinha boa audição. Ninguém na cozinha nem na área de serviço, as portas dos armários escancaradas replicavam o desarranjo que tanto contrastava com a vida pacífica que levavam. Ninguém no banheiro, apenas frascos, analgésicos e cremes pelo piso. No quarto encontrou a cama revirada e o interior das gavetas da cômoda sem o zelo de costume.
Refez sua busca com mais minúcia, como se a esposa pudesse estar embaixo de algum móvel. Chegou mesmo a abrir as portas do roupeiro. Nem sinal. Encontrou a bolsa, a carteira, os documentos, dinheiro. Eneida trabalhava como telefonista em um jornal próximo ao prédio em que moravam, chegava em casa sempre no meio da tarde. Não gostava de sair, e se por ventura o fizesse sempre deixava bilhete avisando ao marido. Ele atribuiu o fato de não comunicar sua saída à pressa ou ao esquecimento. Mas o ambiente em tumulto o alarmava mais. (…)”

Este conto faz parte da Coleção Identidade. Saiba mais em www.amazon.com.br/colecaoidentidade