O Vegetarismo e a Moralidade das raÁ¦as
Por Jaime de Magalhães Lima Tem os seus pergaminhos o vegetarismo. Não é uma doutrina nascida de ontem. Tem títulos autênticos de nobreza prolongada durante gerações sem número, respeitada nas mais altas civilizações em cujas superiores aspirações colaborou, definindo-as eloquentemente pela voz das suas mais belas e autorizadas individualidades e corroborando-as ardentemente pelo exemplo dos seus mais devotados apóstolos. Sem nos afastarmos da nossa propria civilização, sem sairmos d’este fóco de cultura chamado o ocidente da Europa onde nos criamos e onde os nossos mais remotos avós se criaram e educaram, legando-nos um espólio de sentimentos e ideias que constituem toda a nossa alma e que nos cumpre cultivar e aperfeiçoar para o transmitirmos aos nossos filhos acrescentado em formosura e benefícios, emendado, corrigido e depurado em seus vícios e insuficiências; dentro dêste círculo devéras estreito relativamente aos largos espaços em que fóra dele outras raças e outras condições naturais formaram sociedades que igualmente engrandeceram e honram a humanidade pelas concepções da vida que realizaram e de que foram veiculo e sublime instrumento no mundo; limitando-nos à exígua mancha do globo que é o nosso berço e o nosso lar e fazendo-o, não porque além dele não conheçamos corações iguais aos nossos, vivendo do mesmo alento, crentes na mesma fé e enamorados da mesma elevação mas sómente porque para o fim muito restrito que neste instante temos em vista convêm não distrair a atenção do que de mais nos toca e por isso será mais claramente demonstrativo: neste cantinho que acendeu seus fachos de luz em volta do Mediterraneo e de lá a fez irradiar através das montanhas até aos mares do norte, o vegetarismo foi e é uma das caracteristicas do zenit moral das civilizações, e como tal o aceitaram, proclamaram e praticaram os gênios que mais fundamente as compreenderam e mais brilhantemente as serviram. O reconhecimento deste facto é hoje uma verdade corrente. O mais rudimentar estudo do vegetarismo não deixará de o apontar. Por certo somarão milhões as folhas impressas em que se encontram os nomes de vegetarianos que foram na história dos povos da Europa como signais da sua grandeza e juizes e farois do seu tempo e dos tempos futuros. Mas nem é justo que se invoque o seu valor moral sem lembrar os que por uma sublimada inspiração no-lo mostraram, nem tão pouco seria prudente que, sómente porque uma verdade se tornou indiscutivel e porventura banal entre homens cultos, deixássemos de a repetir tão inumeráveis vezes quantas necessárias fossem para que ela se propague e produza todos os bens que só pela sua larga disseminação poderá produzir. E o vegetarismo, tendo já os seus altares e o seu heróico punhado de fieis em todos os paises que atingiram a sensibilidade moral e religiosa, está infelizmente longe de ter penetrado na concepção vulgar das obrigações humanas, como é mister para a redenção de tantos e tão dolorosos males que nos afligem e perseguem por culpa da nossa cegueira e obscuridade. Recordemos pois muito de passagem as lições dos profetas e mestres. É dever e é utilidade. E pena é que não possamos agora fazê-lo com a pausa que o encanto das suas palavras nos pede e que o proveito da própria educação imperiosamente nos aconselha. De Pitágoras a Shelley ou a Wagner ou a E. Réclus ou a Tolstoi que arautos não teve o vegetarismo, que divinos clamores não fez ouvir às multidões ignorantes da própria fortuna, escravas da primitiva animalidade ou ensandecidas e aviltadas em sórdidos prazeres!… Desde que a nossa civilização pôde gravar seu rasto na história, a tradição do vegetarismo jámais se interrompe completamente.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Jaime de Magalhães Lima
- ASIN: B00AR1A82M
- Editora: Library of Alexandria
- Idioma: Português
- Tamanho: 439 KB
- Nº de Páginas: 55
- Categoria: História
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