O Teatro de Deus: as beatas do Padre Cícero e o espaço sagrado de Juazeiro
Por Dia Nobre A historiadora Dia Nobre reconta nas páginas deste livro a já tão tratada história do milagre de Juazeiro e da própria cidade da qual é filha. Mas este texto é marcado pela tomada de uma atitude historiográfica inovadora ao deslocar a centralidade destas histórias da figura do Padre Cícero Romão Baptista para enredá-las em torno das práticas e falas de oito beatas; mulheres que, como a sempre referida Maria de Araújo, participaram intensamente dos eventos que culminaram com a abertura de dois inquéritos episcopais e com a excomunhão do padre de Juazeiro. Mulheres que foram submetidas a um processo de silenciamento, tanto no decorrer dos próprios acontecimentos, sendo pressionadas e intimidadas pelas autoridades religiosas para que negassem as visões beatíficas e os fatos extraordinários dos quais diziam ser agentes e testemunhas, quanto na própria historiografia sobre o milagre de Juazeiro, que, muitas vezes, sequer se refere à existência destas outras beatas, que pareciam, muitas vezes, quererem concorrer com a beata que foi agente do propagado milagre, ao ver a hóstia sagrada transformada em sangue na sua boca.
Ao se deparar no processo episcopal com depoimentos de outras mulheres que falavam não só de sangramentos, mas de viagens ao Purgatório, ao Céu e ao Inferno, do aparecimento de hóstias ensanguentadas, de estigmas de crucificação, de almas que vinham até o Juazeiro à capela de N. S. das Dores para purificarem-se dos pecados, de visões, de profecias, de êxtases místicos e de comunhões espirituais coube a Edianne tomar a atitude de pensar a história do silêncio em torno dessas mulheres, de como ele se produziu, de pensar que práticas discursivas e não-discursivas produziram este silenciamento e como ele foi estratégico para que se elaborasse a versão hegemônica da história do milagre e de Juazeiro, que gira em torno da figura do Padre Cícero. Ele próprio e outros homens que orbitavam a sua volta parecem ter, em dado momento, contribuído para que estas mulheres e seus corpos fossem calados, na tentativa de conseguir uma conciliação com a Igreja e a recuperação de seus direitos de sacerdote.
O livro O Teatro de Deus significa também uma nova atitude quando se trata de relacionar história e espaços. Sendo fruto de uma Dissertação de Mestrado, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cuja área de concentração trata dessa relação, o livro de Edianne se dedica a pensar a constituição histórica de um espaço sagrado, de um espaço de crença, de um espaço de peregrinação religiosa, como é até hoje a cidade de Juazeiro do Norte. Como através de uma hierofania, de um evento que instaura um tempo e um espaço marcados pela emergência do sagrado, o espaço da pequena vila de Juazeiro é ressignificado, torna-se o centro de um novo mundo, torna-se a nova Jerusalém, o espaço em que novamente Cristo viera derramar seu sangue, viera reafirmar o evento da cruz, para a remissão dos pecados de todos aqueles que acreditassem. O milagre da hóstia faz Juazeiro ser palco da encenação de práticas religiosas, de devoção e de fé que escapam ao controle da hierarquia da Igreja Católica, práticas que rompem com os códigos que definem o sagrado e a religiosidade oficial.
Ao se deparar no processo episcopal com depoimentos de outras mulheres que falavam não só de sangramentos, mas de viagens ao Purgatório, ao Céu e ao Inferno, do aparecimento de hóstias ensanguentadas, de estigmas de crucificação, de almas que vinham até o Juazeiro à capela de N. S. das Dores para purificarem-se dos pecados, de visões, de profecias, de êxtases místicos e de comunhões espirituais coube a Edianne tomar a atitude de pensar a história do silêncio em torno dessas mulheres, de como ele se produziu, de pensar que práticas discursivas e não-discursivas produziram este silenciamento e como ele foi estratégico para que se elaborasse a versão hegemônica da história do milagre e de Juazeiro, que gira em torno da figura do Padre Cícero. Ele próprio e outros homens que orbitavam a sua volta parecem ter, em dado momento, contribuído para que estas mulheres e seus corpos fossem calados, na tentativa de conseguir uma conciliação com a Igreja e a recuperação de seus direitos de sacerdote.
O livro O Teatro de Deus significa também uma nova atitude quando se trata de relacionar história e espaços. Sendo fruto de uma Dissertação de Mestrado, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cuja área de concentração trata dessa relação, o livro de Edianne se dedica a pensar a constituição histórica de um espaço sagrado, de um espaço de crença, de um espaço de peregrinação religiosa, como é até hoje a cidade de Juazeiro do Norte. Como através de uma hierofania, de um evento que instaura um tempo e um espaço marcados pela emergência do sagrado, o espaço da pequena vila de Juazeiro é ressignificado, torna-se o centro de um novo mundo, torna-se a nova Jerusalém, o espaço em que novamente Cristo viera derramar seu sangue, viera reafirmar o evento da cruz, para a remissão dos pecados de todos aqueles que acreditassem. O milagre da hóstia faz Juazeiro ser palco da encenação de práticas religiosas, de devoção e de fé que escapam ao controle da hierarquia da Igreja Católica, práticas que rompem com os códigos que definem o sagrado e a religiosidade oficial.
Características do eBook
Aqui estão algumas informações técnicas sobre este eBook:
- Autor(a): Dia Nobre
- ASIN: B082DLBM5F
- Editora: Edição da Autora
- Idioma: Português
- Tamanho: 1322 KB
- Nº de Páginas: 217
- Categoria: História
Amostra Grátis do Livro
Faça a leitura online do livro O Teatro de Deus: as beatas do Padre Cícero e o espaço sagrado de Juazeiro, escrito por Dia Nobre. Esse é um trecho gratuito disponibilizado pela Amazon, e não infringe os direitos do autor nem da editora.